terça-feira, 7 de maio de 2019

Cúpula da UFPR busca apoio político contra cortes de custeio

Flavio Arns: decisão deve ser imediatamente revista

Em uma das piores crises de seus 106 anos de existência, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) decidiu usar o que tem de melhor para combater os cortes impostos pelo governo Jair Bolsonaro: o conhecimento de seus integrantes. Docentes, chefes de setor, coordenadores de cursos, pró-reitores e reitor traçaram uma estratégia que deve passar por articulação política em busca de resolução do impasse. A instituição, segundo a reitoria, pode parar em agosto se não houver forma de reverter o corte de 30% nas verbas de orçamento de custeio da universidade adotado na semana pelo Ministério da Educação (MEC). Definido em reunião da cúpula na sexta-feira, o primeiro passo será a procura de parlamentares paranaenses que possam pressionar o governo.
O primeiro deputado federal a se manifestar foi Gustavo Fruet (PDT), cujo partido moveu na sexta-feira uma Arguição de Descumprimento de Preceitos Fundamentais (ADPF) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra os cortes. O partido do deputado Aliel Machado, o PSB, ambém acionou o STF. Integrante da Comissão de Educação na Câmara, Aliel tomou a frente parlamentar de combate aos cortes. “Cobrarei pessoalmente o ministro durante sua ida a nossa Comissão”, disse Machado. Entre os demais deputados paranaenses que se pronunciaram em redes sociais, são contra os cortes Enio Verri, Zeca Dirceu e Gleisi Hoffmann, ambos do PT. “Eu e o deputado Paulo Pimenta já protocolamos requerimento pedindo informações do Ministério da Educação a respeito desses cortes”, disse a deputada. O deputado Boca Aberta (PROS) também se posicionou contra. “É uma aberração, uma vergonha. Sou totalmente contrário a qualquer tipo de corte na Educação. Nós vamos ‘sentar o pau’ sem dó”, disse o deputado.
Entre os favoráveis ao corte, apenas Filipe Barros (PSL-PR) se posicionou. “Quando Dilma cortou bilhões da Educação, a esquerda ficou quietinha. Agora que Bolsonaro vai remanejar verba das Universidades Federais para a Educação Básica, eles estão ‘revoltados’”, publicou em sua página do Facebook. A Câmara Federal ficou praticamente vazia na semana passada em razão do feriado do Dia do Trabalho, que caiu na quarta-feira, e os demais deputados não se pronunciaram.
Entre os três senadores do Paraná, Oriovisto Guimarães (PODE-PR), fundador de uma das maiores universidades privadas do País, e do cursinho pré-vestibular do Grupo Positivo, se posicionou a favor das universidades públicas. Oriovisto disse ao Bem Paraná por telefone que fará o possível para ajudar o reitor Ricardo Marcelo Fonseca, da UFPR, que busca apoio político contra a medida. “Tenho o maior amor pela Educação. Qualquer corte que seja feito de verba para a universidade, eu sou contra. Quando eu for procurado terei o maior prazer em ajudar o reitor”, disse o senador.
No sábado, o senador Flavio Arns (REDE-PR), que é professor licenciado do setor de Educação da UFPR, afirmou que a decisão do MEC de bloquear 30% das verbas de custeio “deve ser imediatamente revista”. “Temos que ter o discernimento necessário para não deixar que visões ideológicas divergentes contaminem um debate que deve ser do Brasil. O senador Alvaro Dias (PODE-PR) ainda não se manifestou.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, participará nesta terça-feira (7), às 11h, de audiência pública na Comissão de Educação do Senado. Ele será instigado a dar explicações sobre o recente corte de verba de universidades federais que, segundo ele, “promovem balbúrdia” e “eventos ridículos”. No próximo dia 15, uma audiência com o ministro está marcada para ocorrer na Câmara Federal.
O reitor da UFPR também deve procurar pelas lideranças paranaenses do Poder Executivo. Fonseca tem uma reunião agendada como governador Ratinho Junior (PSD) para o dia 20 de maio. Procurado pela reportagem, Ratinho Junior não quis se manifestar sobre o assunto. O prefeito de Curitiba Rafael Greca (DEM) também deve ser procurado pelo reitor.
‘É oportunidade para fortalecer instituições’, diz professor
A busca por apoio político também deve servir como uma forma de aproximar a comunidade externa da universidade. Professor do curso de pós-graduação em Ciência Política da UFPR, Emerson Urizzi Cervi afirma que o sucateamento das universidades causaria impacto direto nas comunidades, o que poderia ser atribuido os políticos locais. Cervi chegou a publicar mapas que indicam a relação das Federais com a atuação política regional. Um deles indica os “municípios com unidade da rede federal de ensino - ou seja, municípios que serão atingidos pela medida”.
“Quatro mapas ao redor mostram as distribuições das maiores votações, em 2018, por município, para deputado federal dos principais partidos que compõem o centrão e de quem o governo depende para aprovar suas propostas no Congresso. Cada um dos partidos da base - ainda que se definam como independentes - ocupa pelo menos uma área com grande número de instituições federais. Agora, desconsidere as capitais, você é capaz de imaginar o impacto econômico que uma IFE (Instituições Federais de Ensino) têm em um município de porte médio do interior do País? Consegue imaginar o impacto negativo para o deputado eleito com base nesses municípios? E o prefeito e vereadores que se recandidatam daqui 18 meses?”, aponta Cervi.
Para o professor, a crise é uma oportunidade para a comunidade acadêmica deixar claro ao País sua importância em diversas esferas. “Se os gestores souberem aproveitar o momento, promoverem uma aproximação dos representantes com base eleitoral nos municípios de influência dos campi universitários, essa será uma ótima oportunidade para fortalecer as instituições. Digo, fortalecer a partir de laços com a comunidade. Com as forças econômicas e políticas locais. Agora, se a comunidade universitária atrapalhar, dando microfone e espaço para sindicalista reclamar de chapas concorrentes e de resultado de eleições classistas, na boa, seremos decepados sem dó”, alerta.
Emerson Cervi afirma ainda que o momento também pede a compreensão de empresários. “A UFPR contrata mais de 180 postos de trabalho terceirizados para limpeza e segurança patrimonial só em Curitiba e litoral do Estados. Alguns postos, por exemplo, segurança 24 horas, incluem mais de um trabalhador. Isso significa que são mais de duas centenas de famílias de zeladores a guardas noturnos que trabalham e vivem diretamente do orçamento da universidade, mesmo sem serem alunos, professores ou funcionários concursados. Não há, na capital do Estado, uma empresa privada que, individualmente, contrate mais funcionários de empresas de terceirização desses serviços que a UFPR. Que tal se os empresários do setor deixassem de lado suas militâncias ideológicas, passassem a pensar um pouco mais com a razão e se posicionassem contra o ataque do ministério da Educação às universidades?”, questiona.