SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Sinditac-PR (Sindicato dos Transportadores Autônomos do Paraná) anunciou que a categoria realiza neste sábado (30) carreata de protesto em resposta ao pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (PSL) na noite da última quinta-feira (28). A entidade negou, no entanto, a intenção de nova paralisação da categoria.
Nas últimas semanas, outros representantes dos caminhoneiros chegaram a se reunir com integrantes do governo para formalizar suas queixas, e havia expectativa entre eles em relação a um retorno do próprio presidente Bolsonaro.
Em sua live no Facebook, Bolsonaro falou diretamente aos caminhoneiros sobre a nova política de preços do diesel da Petrobras, o cartão caminhoneiro e medidas contra o que chamou de indústria da multa. Ele também sinalizou que seriam feitos novos anúncios à categoria, sem dar maiores detalhes.
"Tínhamos um problema que o caminhoneiro reclamava, que ele fazia o frete entre Porto Alegre e Fortaleza, entre ida e volta é 10, 12 dias. Ele reclamava que muitas vezes pagava o frete na ida e na volta, em havendo recomposição do preço do diesel, parte, quase todo o seu frete era engolido pelo novo preço do diesel", disse o presidente.
"O que que o governo federal, através do ministro Bento [Albuquerque], das Minas e Energia, também acertou junto à Petrobras? Que teremos, no máximo daqui a 90 dias, o cartão caminhoneiro."
O presidente ainda destacou: "Caminhoneiros, parabéns a vocês. E, com certeza, novas medidas serão adotadas semana que vem."
O anúncio de Bolsonaro, no entanto, aumentou ainda mais a insatisfação dos caminhoneiros, que reivindicam o cumprimento da tabela de fretes mínimos e um prazo mínimo de 30 dias para reajuste dos preços do diesel.
Na última terça-feira (26), a Petrobras anunciou que os reajustes respeitarão um prazo mínimo de 15 dias. A estatal disse que o objetivo da nova política de preços para o diesel busca "conferir aos clientes maior previsibilidade à trajetória de preços". Questionada pela reportagem se a decisão atendia pedido do governo federal, a assessoria de imprensa da estatal negou que houvesse ingerência política na decisão.
Plínio Dias, presidente do Sinditac, disse à Folha de S.Paulo que a carreata, prevista para acontecer a partir das 8h30 na Linha Verde, em Curitiba, é uma mobilização para chamar a atenção do governo e que, por enquanto, não há intenção de novas paralisações, como a do ano passado.
"Queremos sentar com o governo e trabalhar em cima das leis que já existem e que não estão sendo cumpridas, como o piso dos fretes e a lei do vale-pedágio. Coisas como o cartão caminhoneiro é pro futuro ainda, e não vai ajudar a diminuir o aumento preço do diesel", diz.
Com a escalada dos preços internacionais do petróleo, o preço do diesel nas refinarias já subiu 18,5% em 2019, na comparação com o último valor de 2018. Nas bombas, a alta é menor, de 2,5%, mas o suficiente para alimentar a insatisfação.
O cartão caminhoneiro foi uma das poucas medidas referentes aos caminhoneiros anunciadas na live por Bolsonaro. O cartão, pré-pago, seria uma tentativa de evitar a recomposição do preso do diesel no frete. O motorista "carregaria" previamente uma quantia de combustível no cartão e iria usando esse "crédito" ao longo da sua viagem, sem incidência de reajuste.
Já a chamada lei do vale-pedágio, que prevê isenção de pedágio para transportadores de carga, foi questionada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) no STF (Supremo Tribunal Federal), no ano passado.
Apesar do tom apaziguador adotado pela categoria, o presidente do Sinditac diz que a falta de propostas e prazos concretos de Bolsonaro tem irritado os caminhoneiros, muitos dos quais apoiaram o presidente durante a campanha.
"A fala dele não refrescou nada para a gente, muito pelo contrário. Pessoas que antes não queriam nem parar para fazer carreata agora estão querendo participar. Foi a mesma coisa que jogar gasolina em fogo. Cerca de 90% da categoria acreditou que este seria um governo que cumpriria as leis, mas já se passaram três meses. É muito tempo que estamos esperando por um posicionamento", diz Plínio.
À Folha de S.Paulo, o caminhoneiro autônomo Wallace Landim, principal liderança que esteve a frente da paralisação da categoria em 2018, disse que, por ora, descarta qualquer tipo de mobilização por parte de caminhoneiros do estado de Goiás, seja greve ou protesto.
Wallace diz que tem mantido diálogo ao longo das últimas semanas com Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil, sobre as reivindicações da classe. Após a live de Bolsonaro da última quinta (28), Wallace disse que entrou em contato novamente com o ministro, que teria prometido um novo posicionamento de Bolsonaro ainda nesta sexta-feira (29).
"Queremos um posicionamento decente do governo, e não que fiquem divulgando cada semana uma medida. Nossa situação é urgente. A fiscalização do frete mínimo não está sendo 100% cumprida e o cartão caminhoneiro não vai ajudar no preço do diesel pro caminhoneiro. O que exigimos é que o presidente honre os compromissos feitos durante a campanha", disse ele.
DIVISÃO DOS CAMINHONEIROS
A articulação com o Planalto vem causando desconforto entre os caminhoneiros, em grande parte pela quantidade de lideranças locais, que se organizam de forma independente da CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos), principal entidade que representa a classe.
"Queremos conversar com o governo, por todos os pingos nos 'is', porque o que está chegando de informação lá pra eles, está chegando tudo distorcido. A gente não sabe quem está passando as informações pros ministros, pros órgãos competentes, não sabemos quem está sentando lá e falando", diz Plínio Dias, do Sinditac.
Sobre a carreata programada para este sábado (30), a CNTA afirmou que apoia a reivindicação dos caminhoneiros e que está de acordo com as decisões tomadas pela categoria e pela base coligada. A entidade ressaltou que o movimento ainda não tem finalidade grevista.