quarta-feira, 15 de maio de 2019

Condor é um dos campeões em ações trabalhistas no Paraná

Condor: trabalhadores insatisfeitos


Uma das maiores (se não a maior) empresa privada do Paraná, com faturamento anual na casa dos R$ 4 bilhões somando suas 46 lojas espalhadas pelo estado. Esse é o Condor, gigante paranaense do setor supermercadista. Mas um paradoxo salta aos olhos: enquanto o faturamento da empresa cresce — o salto foi de 710% apenas durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT) —, as reclamações de colaboradores também aumenta.
Segundo dados do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-PR) o Hipermercado Condor é o oitavo maior litigante da justiça trabalhista no estado, sendo a empresa mais processada do ramo varejista ou supermercadista. Apenas no ano passado haviam 1.340 processos contra a empresa pendentes de julgamento, sendo 1.198 em primeiro grau e 142 em segundo.
Além disso, a marca também é uma das mais investigadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT-PR), que desde 1999 autuou a empresa 172 vezes, sendo que 123 desses procedimentos (71,5% do total) foram realizados nos últimos cinco anos.
Funcionários da empresa ouvidos pela reportagem e que preferiram manter suas identidades sob sigilo ajudam a desenhar o cenário de trabalho que seria encontrado nas lojas da rede, relatando o que seriam irregularidades trabalhistas e a perda de direitos.
Um caixa, que há dois anos e meio trabalha para o Condor, relata que na última Páscoa os funcionários chegaram a ter quase três semanas sem folga nenhuma. E isso que a própria Constituição Federal, em seu artigo 7º, garante aos trabalhadores o repouso semanal remunerado, “preferencialmente aos domingos”.
“Na época da Páscoa chegamos a ficar quase três semanas sem folga nenhuma e só avisam que não vai ter folga na véspera. A desculpa é que as horas extras vão para o banco de horas que virariam folga, mas isso nunca acontece. Me sinto uma escrava aqui. Estou há 2 anos e meio e só piora”, desabafa o funcionário, relatando ainda que a empresa não manda ninguém embora para não pagar direitos trabalhistas.
“Ou é justa causa ou a gente tem que pedir a conta. Eu já trabalhei em comércio, mas nunca vi nada assim”, conta.
Outro caixa ouvido pela reportagem relatou que já está trabalhando na terceira loja da rede Condor, “na esperança de que o gerente seja melhor, que as folgas sejam respeitadas”. Segundo ele, aos poucos os trabalhadores do Condor foram perdendo seus direitos.
“Primeiro a hora extra, agora a folga. Eles fazem o que querem, nem mesmo os horários de almoço e de saída são respeitados e isso é quase todo dia. Já perdi ônibus para voltar para casa e pedi ajuda para o gerente, que disse que era pra eu me virar. Trabalho não está fácil de arrumar e vamos ficando, na esperança de um dia receber a conta, o que nunca acontece, porque eles esperam a gente pedir demissão.”
Procurado pelo Bem Paraná, o Condor não se manifestou até o fechamento desta reportagem.
Documento de sindicato reforça denúncias
Um documento disponível no site do Sindicato dos Empregados em Mercados de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral do Paraná (Siemerc) ajuda a reforçar as denúncias feitas por trabalhadores. Trata-se de uma pauta de reivindicações dos trabalhadores da Rede Condor, no qual os sindicalistas ainda anotam que “há um forte descontentamento dos trabalhadores e disposição de radicalização.” Dentre as reclamações de funcionários (a pauta reivindicatória conta com um total de 26 itens), há acusação de “perseguição, intimidação, coação e constrangimento; ameaças constantes de advertências e justa causa”, inclusive com o relato de que “os encarregados falam que a única forma de sair daqui é por justa causa, porque eles não mandam ninguém embora.”
A questão de horas extras e banco de horas também aparece, inclusive com um funcionário relatando que já chegou a trabalhar três meses seguidos aos domingos por não ter ninguém para cobri-lo. Outra reclamação é que a comida feita pela empresa seria mal preparada, o que teria levado muitos colaboradores a passar mal, e há ainda a denúncia de que os funcionários precisam justificar ao gerente-geral quando pegam algum atestado médico, o que criaria constrangimento, principalmente às mulheres, que por vezes são obrigadas a responder, por exemplo, o que foram fazer no ginecologista.

Nas eleições, ameaças de demissões e apoio a candidato
Durante as eleições do ano passado, o empresário Luciano Hang, dono da Havan, roubou a cena ao apoiar Bolsonaro e fazer campanha aberta. No Paraná, quem fez algo parecido foi justamente Pedro Joanir Zonta, dono da Rede Condor e que também apoiou o candidato eleito. Na ocasião, Zonta divulgou uma nota em tom ameaçador aos colaboradores, comprometendo-se a não cortar o 13º salário e férias dos funcionários caso seu candidato fosse vencedor do pleito. Além disso, o empresário também teceu críticas duras à esquerda, embora o faturamento de sua empresa tenha crescido exponencialmente durante os anos de governo do PT. Como o documento interno acabou sendo divulgado nas redes sociais e viralizou, o Ministério Público Eleitoral e o Ministério Público do Trabalho reagiram. E aí, para evitar uma multa de R$ 100 mil, Zonta encaminhou uma nova carta aos trabalhadores, desta vez afirmando que a sua rede “respeita as leis trabalhistas e os tratados de direitos humanos, e que não tolera a imposição ou direcionamento nas escolhas políticas dos empregados durante o processo eleitoral".