segunda-feira, 28 de agosto de 2017

DALLAGNOL: 'LAVA JATO É ÁRVORE CONTRA IMPUNIDADE NASCIDA NO DESERTO'



Procurador da República que coordena a força-tarefa da Lava Jato no Paraná, Deltan Dallagnol declarou neste sábado (26) que a operação, sem mudanças profundas no sistema de combate à impunidade no Brasil, “é enxugar gelo”. Ele participou de palestras, em São Paulo, onde defendeu renovação política para garantir a sobrevivência da Lava Jato. E também afirmou que “na terra da impunidade, a Lava Jato parece uma árvore frondosa, mas floresceu no deserto”.
As afirmações em defesa da Lava Jato foram feitas durante o 8° Congresso Internacional de Mercados Financeiros e de Capitais, em Campos do Jordão-SP, e o 1° Congresso Brasileiro da Escola de Altos Estudos Criminais, realizado na Zona Sul da capital paulista. Nas duas ocasiões, o procurador exibiu um histórico da operação e de seus resultados, e fez críticas à corrupção.
“Tenho plena consciência de que meu trabalho, a Lava Jato sem mudanças mais profundas é enxugar gelo”, disse o procurador. “Temos a reforma política como alternativa. Não a que estão propondo, porque essa muda algumas coisas para no fim ficar do mesmo jeito. Renovação política é questão de saúde do nosso sistema e sobrevivência da Lava Jato”, prosseguiu, ao revelar não ser candidato em 2018 e ter recusado convites de partidos, sem descartar atuação política no futuro.
Dallagnol disse ser difícil que a Lava Jato mude o Brasil, apesar de já ter obtido um compromisso de devolução de mais de R$ 10 bilhões; sendo R$ 1 bilhão já devolvidos. E enumerou condições que propiciam a corrupção.
“A Lava Jato transformará nosso país? Difícil. A Lava Jato é fruto da coragem mas é o primeiro passo. Não podemos adotar a teoria da maçã podre. Não basta jogar a maçã podre fora. Temos que melhorar a produção dela para que durem mais”, defendeu Dallagnol. “No cenário brasileiro, duas [condições] se destacam com folga: a primeira dela é a impunidade. Nós somos o paraíso da impunidade. E a segunda são falhas no sistema político. A corrupção é um crime difícil de descobrir e, quando se descobre, é difícil de comprovar por causa da lavagem de dinheiro. E o sistema favorece a anulação de casos envolvendo réus ricos e poderosos”, concluiu.
Mas apesar das críticas ao sistema, o procurador citou três motivos que levaram a Lava Jato a romper esta impunidade: “Novo modelo de investigação, apoio da população e uma série de sortes”, anumerou, ao incluir bons juízes atuando nos processos da operação, entre as “sortes”.
Assim como o juiz federal Sérgio Moro, Deltan Dallagnol também tratou da possibilidade de que o Supremo Tribunal Federal (STF) revise a decisão de autorizar a prisão após condenação em 2ª instância. “Algo que contribuiu muito para a Lava Jato foi a possibilidade de execução provisória da pena. Por isso nos preocupa muito a revisão de posicionamento do STF”, declarou.