O quadro dramático na saúde do Amazonas, onde o novo coronavírus já matou mais de mil pessoas e infectou quase 13 mil até a manhã de ontem, tem também motivos anteriores à pandemia. A covid-19 atingiu um Estado com um sistema fragilizado por má gestão e desvios milionários de verbas, que ocorrem há vários governos, disse o presidente do Conselho de Medicina local, José Bernardes Sobrinho.
Desde 2016, o Operação Maus Caminhos, do Ministério Público Federal (MPF), investiga o mau uso de verbas. Atualmente, dois ex-secretários usam tornozeleira eletrônica e ex-gestores e empresários já foram presos. Atrasos em salários, que já são baixos, número reduzido de médicos e falta de investimentos completam o cenário que culminou com o desastre sanitário pelo qual passa o Estado. "Digo que é uma tragédia anunciada já há muito tempo. Há má gestão e subtração de recursos", afirmou Bernardes Sobrinho.
As investigações de procuradores da República apontam o médico e empresário Mouhamad Moustafa, sócio e administrador da Salvare Serviços Médicos, como chefe de um esquema criminoso que desviou mais de R$ 100 milhões em recursos públicos. Até o início de março, Moustafa acumulava sete condenações criminais, que somavam 81 anos de cadeia.
Na mesma investigação também apareceram dois ex-secretários de Saúde - Pedro Elias e Wilson Alecrim -, além de funcionários públicos e políticos. Os desvios ocorreram, conforme as apurações, no Instituto Novos Caminhos, organização social que geria unidades de saúde. As fraudes envolveriam pelo menos quatro empresas e contratos superfaturados.
O MPF ajuizou dezenas de ações penais e de improbidade administrativa. Na época das denúncias, os acusados alegaram inocência.