
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido) estão em espectros opostos no mapa político nacional. Contudo, para Marcos Henrique Barros Pereira, 37 anos, pré-candidato a vereador em Santa Maria da Vitória, no interior da Bahia, é possível uni-los se o objetivo for atrair eleitores. É a estratégia "bolsolula".
Pereira tem uma loja de celular na cidade de 40 mil habitantes e resolveu inovar ao anunciar sua estreia na política. Neguinho Celular, como é conhecido, lançou um santinho virtual explorando, ao mesmo tempo, uma foto do petista e outra do presidente. Segundo ele, há que se absorver o que de melhor cada um apresenta. Por outro lado, não nega que seu objetivo era aparecer agradando a todos.
"Eu falei: 'Isso aqui vai causar. Santa Maria vai fazer resenha disso aqui. E agora estão fazendo no País todo", disse ao Estadão. "Teve uns que me chamaram de sem noção, outros me chamaram de gênio do marketing e outros falaram que a Nasa tem que estudar minha cabeça."
Mas a estratégia de Neguinho para alavancar a pré-campanha pode ser irregular, uma vez que a montagem que ele encomendou a um amigo pode ser interpretada como tentativa de ludibriar eleitores, ao sugerir que detém o apoio de candidatos antagônicos.
O advogado especialista em Direito Público e mestre em Direito Constitucional Hélio Deivid Amorim Maldonado afirma que a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as vedações que incidem sobre a propaganda eleitoral no processo eleitoral incidem também sobre a propaganda em pré-campanha.
"Nesse diapasão, na propaganda de pré-campanha não devem ser empregados 'meios publicitários destinados a criar, artificialmente, na opinião pública, Estados mentais, emocionais ou passionais'.
No caso do pré-candidato Neguinho, é certo que o mesmo quer ludibriar o eleitorado com sua indevida propaganda, ao induzir que a um só tempo detém o apoio de Lula e Bolsonaro. Uma apropriação indébita de capital político não misturável", disse Maldonado.