sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Nas redes sociais, jovem denuncia padrasto por tortura e estupro



Uma jovem de 21 anos que mora em Camaçari, na Bahia, usou as redes sociais para denunciar que durante anos ela e a mãe foram violentadas e torturadas pelo padrasto. O homem foi preso na última quarta-feira (13) e, segundo a polícia, diz que é inocente.
Em cinco posts no Instagram, Eva Luana da Silva conta que tudo começou quando ela tinha 12 anos. A jovem diz que a mãe era constantemente vítima de violência por parte do companheiro e, depois, passou a ser alvo dele também.
“Minha mãe era agredida, abusada, violada e torturada quase todos os dias. Meu padrasto era obsessivo e ciumento com ela. Resumindo de uma maneira geral, ela era agredida com chutes, joelhadas, objetos. Era abusada sexualmente de todas as formas possíveis. Era obrigada a tomar bebidas até vomitar e quando vomitava tinha que tomar o próprio vômito como castigo. Ele começou a me abusar sexualmente. Eu tinha nojo, repulsa, ódio e não entendia porque aquilo acontecia comigo. Me sentia uma criança estranha e diferente das outras”, relatou a jovem.
“Minha mãe apanhou tanto que teve um parto prematuro, meu irmão morreu depois de 6 dias de nascido. Quando ela estava grávida dele, levou diversos chutes e joelhadas na barriga. Ele não queria mais um filho”, acrescentou em um outro trecho de uma das postagens.

Em um dos posts, a jovem diz que denunciou o caso uma vez, quando tinha 13 anos. Como as autoridades não levaram o caso adiante, segundo ela, foi obrigada a retirar a queixa porque era ameaçada pelo suspeito.
“Quando eu fiz 13 anos, denunciei. Nessa denúncia, eu tinha certeza que seria salva por todos. Mas não foi isso que aconteceu. O Estado falhou a tal ponto, que o meu caso não chegou nem ao Ministério Público. Fui obrigada a retirar a queixa por ameaças do meu padrasto. Ele utilizou o poder financeiro pra comprar a liberdade e comprar a minha alma. Porque ali eu perdi a minha alma. E o que eu fui denunciar, 1 ano de sofrimento, se multiplicou em mais 8 anos”, relatou.
Eva conta que os abusos, torturas e agressões aumentaram depois da tentativa frustrada de levar seu agressor para a cadeia.
“Eu não tive mais vida social. Tudo era uma farsa. Ele nos obrigava a fingir que tínhamos uma família perfeita. As agressões eram verbais, físicas e psicológicas. Entre elas comer muito, em tempo estipulado. Isso aconteceu com uma pizza família, pra comer inteira em 10 minutos. Óbvio que não conseguimos. Também tomar 2 litros de refrigerante nesses 10 minutos. Eu levei socos no rosto, e ele não me deixava me proteger com a mão. Chutes até cair no chão e, de quatro, ele enfiou as pizzas na minha boca, me chamando de animal. Eu vomitei e comi meu próprio vômito. Meu gato comeu um pedaço e lambeu outro, ele me obrigou a comer o que ele havia lambido”, relatou.
A jovem ainda contou que era obrigada a fazer trabalhos de faculdade para o padrasto. “Se eu não fizesse perfeito, eu pagava o preço. Eu também respondia todas as provas da faculdade, era obrigada a sair mais cedo da minha aula pra responder às provas dele pelo celular. Existiam castigos e punições pra tudo. Até mesmo se eu não pagasse uma conta no banco que estava superlotado, mesmo tendo horários no trabalho ou estágio”.
Eva também conta que tinha o celular vistoriado todos os dias. “Ele desinstalava o WhatsApp e reinstalava novamente pra poder recuperar as conversas apagadas. Eu não podia namorar. Eu não podia sair com meus amigos, não tinha vínculo social com ninguém. Todos os vínculos eram vigiados e ele sempre respondia pessoas como se fosse eu. Todas as minhas senhas no celular, redes sociais e Gmail eram monitoradas por ele. Me vigiava na porta da sala da faculdade. Todos percebiam e me viam chorando”.
“Já abortei várias vezes”
“Ele me agredia nos estupros, mas depois de um tempo, só utilizou das ameaças contra a minha família. Eu era usada como um lixo. Já abortei diversas vezes. Nunca pude ir ao médico pra fazer curetagem. Todas as vezes sangrava e passava mal a noite inteira. Já vi os bebês inteiros no vaso sanitário. Eu era chamada de burra, anta, doente, demente todos os dias, e era obrigada a repetir isso pra mim mesma”, desabafa a jovem.
“Eu já saí pelada na rua de madrugada, e ele dizia que era para eu ser estuprada por homens. Ele tirava fotos minhas com o meu celular e enviava pra ele mesmo, pra fingir que era eu, criava conversas nojentas com ele mesmo.
Ele é um monstro. Perdi minha infância e adolescência. Me sentia um lixo por não ter forças pra pedir ajuda e por sentir tanto medo”, afirmou.