domingo, 3 de março de 2019

Presidente e diretores estão proibidos de entrar nas instalações da Vale



O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, vai deixar temporariamente o comando da mineradora responsável pela morte de mais de 300 pessoas em Brumadinhio (MG), após o rompimento de uma de suas barragens em 25 de janeiro. A força-tarefa de investiga a tragédia havia solicitado o afastamento de Schvartsman e outros diretores e executivos da empresa. Todos estão proibidos de entrar nos prédios ou instalações da Vale e de interagir com seus funcionários.
Com a saída de Schvartsman, o diretor-executivo, Eduardo Bartolomeo, deve assumir interinamente o comando da mineradora.
Outros três diretores da companhia também se afastaram de seus cargos, após recomendação do Ministério Público Federal, do Ministério Público de Minas Gerais e da Polícia Federal desta sexta-feira (1º).
Em carta ao conselho de administração da Vale na manhã deste sábado (2), Schvartsman se elogia: “Certo de que a percepção dos fatos que levou à recomendação de afastamento não corresponde absolutamente à sua realidade, tomei a decisão, nesta hora, em benefício da continuidade das operações da companhia e do apoio às vítimas e a suas famílias, de solicitar a esse conselho, respeitosamente, que aceite o pedido de meu afastamento temporário das funções de diretor presidente da Vale”.
Os outros diretores afastados são Peter Poppinga, diretor-executivo de ferrosos e carvão, Lucio Flávio Gallon Cavalli, diretor de planejamento e desenvolvimento de ferrosos e carvão, e Silmar Magalhães Silva, diretor de operações do corredor sudeste.
Ao todo, foi pedido o afastamento de 14 pessoas das atividades da Vale, entre elas gerentes, geólogos e engenheiros.
De acordo com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, o afastamento dos nomes indicados não exclui a possibilidade de adoção de “medidas mais gravosas”. “A presente recomendação não esgota a atuação da Polícia Judiciária nem do Ministério Público sobre o tema, não excluindo futuras recomendações ou outras iniciativas com relação aos fatos ora expostos, inclusive e especialmente, a adoção das medidas cabíveis para obtenção do resultado pretendido”, diz o texto.
Entre os gerentes alvo da recomendação das autoridades de Minas Gerais, estão sete dos oito que foram detidos no dia 15 e tiveram habeas corpus concedido pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) no dia 27.
Conforme antecipou a coluna Mônica Bergamo, um dos gerentes da Vale afirmou às autoridades que diretores da empresa sabiam dos riscos da barragem de Brumadinho.
O gerente, Alexandre Campanha, respondeu que poderia afirmar com certeza e convicção que os dados de avaliação de risco e a probabilidade de ruptura, não apenas de Brumadinho, mas de outras barragens do chamado corredor sul e sudeste, eram de conhecimento dos diretores Silmar Silva e Lúcio Cavalli. Os dois se afastaram neste sábado.
A barragem da Vale em Brumadinho se rompeu em 25 de janeiro, deixando 186 mortos e 122 pessoas ainda desaparecidas.
Em uma reação de investidores à tragédia, as ações da Vale acumulam baixa de 16,76%. A desvalorização reflete o temor de que as punições que venham a ser impostas possam gerar danos à rentabilidade da companhia.
Na semana passada, a agência de classificação Moody’s retirou o grau de investimento da companhia ao cortar o rating global atribuído à mineradora Vale de “Baa3” para “Ba1”, com perspectiva negativa.
Durante a gestão de Schvartsman, que assumiu a mineradora em maio de 2017, a companhia se valorizou cerca de 75%. Ele foi indicado ao posto em março daquele ano.
A disparada se deu na esteira da reestruturação societária conduzida pelo executivo. O processo levou a Vale a migrar para o Novo Mercado, segmento da Bolsa brasileira com regras mais rígidas de governança corporativa. Os fundos de pensão Petros (Petrobras), Previ (Banco do Brasil) e Funcef (Caixa) seguem como maiores acionistas da companhia, por meio da Litel (21%), mas não têm o controle.
Antes de chegar à Vale, Schvartsman estava na Klabin, empresa do ramo de papel e celulose. Ele foi também presidente da companhia de perfuração San Antonio Internacional e da Telemar. Na Ultrapar, foi diretor financeiro.
Schvartsman tem 65 anos e é engenheiro formado pela Poli-USP. Ele tem ainda pós-graduação em administração de empresas pela FGV.