segunda-feira, 25 de março de 2019

'Nunca vi aditivos tão mal feitos' diz engenheiro que fez auditoria de obras em escolas investigadas pela Quadro Negro

Segundo o MP-PR, desvios causaram um prejuízo de pelo menos R$ 20 milhões ao estado. — Foto: RPC/Reprodução

O engenheiro que fez as auditorias nos contratos das obras em escolas que, segundo o Ministério Público do Paraná (MP-PR), deixaram um prejuízo de pelo menos R$ 20 milhões ao estado afirmou em depoimento à Justiça que nunca viu aditivos tão mal feitos.

"Como técnico, eu nunca vi aditivos tão mal feitos como os da Valor. Eu já vi muitos aditivos, durante esses 41 anos, vamos dizer, criados para faturar, mas eram feitos até com inteligência", afirmou o engenheiro Luiz Carlos Giublin Júnior, que depôs à Justiça como testemunha.

O MP-PR aponta o ex-governador Beto Richa (PSDB) como "chefe da organização criminosa e principal beneficiado com o esquema de recebimento de propinas" pagas pelas empresas responsáveis pela execução das obras nas escolas estaduais.

Richa foi preso na terça-feira (19) no âmbito da Operação Quadro Negro, que investiga estes desvios.

De acordo com o MP, foram sete escolas que deveriam estar funcionando, mas acabaram abandonadas. Em 2014, o então governador Beto Richa assinou, em um mesmo dia, oito aditivos que aumentaram ainda mais o valor pago pelas obras.

Com os aditivos assinados por Richa, o estado pagou à construtora Valor mais R$ 6 milhões pelas obras inacabadas.

"Nunca vi também uma obra se faturar 95% e a obra ter 5%. Numa época como hoje, que você tem telefone celular, todo mundo tira foto em tudo quanto é lugar, manda pra todo mundo, como é que uma pessoa pode atestar 95% de uma obra quando ela tem 5%?", disse o engenheiro em depoimento.

A autorização para os pagamentos, segundo o MP-PR, passou por várias secretarias até ser assinado pelo então governador.

O engenheiro disse que ficou surpreso com tantas irregularidades.

"Chegava a ser até meio ridículo a maneira como foi armado. Ou eles tinham confiança absoluta de que não iria haver punição de que eles estavam protegidos e não haveria punição nenhuma, ou então eles eram completamente irresponsáveis", afirmou à Justiça.