quarta-feira, 3 de julho de 2019

Paraná registra uma amputação a cada 3 horas e números estão em alta

Márcio dos Santos e Rodolfo Bostelman, durante sessão na reabilitação: os dois usam próteses

Uma verdadeira legião de mutilados. E uma legião que não para de crescer. Segundo informações do Ministério da Saúde, a cada três horas e 13 minutos uma pessoa tem algum membro inferior ou superior amputado no Paraná. Entre 2008 e 2018, foram realizados 29.858 procedimentos desse tipo no estado, enquanto em todo o país foram feitas 534.058 amputações nesses 11 anos. E o número tem aumentado.
Até o ano passado, o Paraná registrava a cada ano cerca de 2,7 mil amputações. Em 2018, contudo, foram feitos 3.445 procedimentos no Paraná, número 31% superior ao verificado no ano anterior (2.629). No país, foram 60.733 amputações, alta de 7,5% na comparação com 2017. Nos dois casos, o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) aponta para o maior número da série histórica, iniciada em 1992.
Segundo a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), o diabetes é ainda a principal causa para amputações no país. Logo em seguida aparecem os acidentes de trânsito, que representariam cerca de 20% das amputações. Seriam justamente essas ocorrências, inclusive, que explicariam o aumento no número de registros, segundo apontam especialistas da Ottobock, que desenvolve um trabalho de reabilitação com base num protocolo internacional.
“É motociclista, homem, abaixo dos 40 anos (a maioria dos amputados que a empresa recebe). Acima dessa idade, aí a causa principal são problemas vasculares, afetando tanto homens quanto mulheres”, explica Rodolfo Henrique Bostelmann, supervisor técnico da Ottobock. ”Número de motos circulando e de motoristas cresceu. Difícil alguém que respeite 100% as regras de trânsito. Falta preparo por parte dos motoristas”, complementa.
Rodolfo, inclusive, é ele próprio um amputado. Em 2008, um táxi avançou o sinal vermelho e o atingiu, que seguia pela via em uma moto. “Fiquei nove dias em coma e quando acordei já estava amputado. É chocante, deprimente num primeiro momento. Mas aí vamos nos desafiando pouco a pouco e a vida volta a valer a pena”, diz.
Na clínica de Curitiba, inclusive, relatos assim são comuns. É que cerca de 56% dos pacientes da Ottobock que perderam membros foram em decorrência de acidentes de moto. Diferente da diabetes, em que muitas vezes as amputações são mais simples, como dedos, por exemplo, esse tipo de trauma exige um processo de reabilitação mais completa.