quarta-feira, 5 de junho de 2019

Disputa por espaço abre críse na cúpula da Segurança

Coronel Lee (PSL): “Por que tanto ódio à PM?”

A insatisfação com a falta de representação da Polícia Militar na cúpula da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) abriu uma crise entre oficiais da corporação e o governo. Uma reunião com a participação de entidades de defesa dos interesses da categoria com deputados estaduais foi marcada para esta quarta-feira (5), na sede da Associação de Defesa dos Direitos dos Policiais Militares Ativos, Inativos e Pensionistas (Amai), para discutir a situação. As críticas de coronéis, ativos e da reserva, ligados a associações, já vinham desde a indicação do coronel do Exército Luiz Felipe Kraemer Carbonell para comandar a Pasta no início do atual governo, mas se intensificaram nos últimos dias, após a substituição dele pelo também coronel Rômulo Marinho Soares, ex-assessor de Carbonell, que agora assumiu o comando da Pasta na semana passada.
Oficiais comentam que essa “corda-bamba” estaria relacionada à pressão dos policiais militares por mais espaço na Sesp. Apesar da troca de comando, o descontentamento persiste, e teria motivado a convocação da reunião.
Nesta terça-feira (4), na sessão na Assembleia Legislativa, o deputado Coronel Lee (PSL) trouxe a público o assunto até então tratado de forma velada. “Estranhamente, o novo secretário de Segurança assumiu há alguns dias, fomos novamente alijados do processo. Foi escolhido um coronel do Exército. Não sabemos até agora qual a experiência que ele tem para comandar uma Pasta dessa natureza. Onde foi retirado os policiais militares, os oficiais dos postos-chave. Não sabemos qual é o motivo de tanto ódio. Se é ódio pela Polícia Militar”, enfatizou. “Nós não sabemos qual a utilidade da Polícia Militar no atual governo”, questionou.
Em nota divulgada ontem, as sete entidades que convocaram a reunião, confirmaram o descontentamento. “O descaso com a categoria é algo inaceitável, principalmente com o atraso no pagamento da data-base”, diz a nota. “Outra questão importante é a ausência de representatividade da categoria na pasta da Secretaria Estadual de Segurança Pública, com a recente nomeação de mais um oficial do Exército para a função, promovendo um desequilíbrio muito prejudicial”, aponta o texto.
“Coronelato” 
Policiais da base, no entanto, afirmam que a falta de representatividade citada pelas associações “preocupa apenas o coronelato” e que os PMs “querem mesmo é reposição salarial”. O coronel da reserva, Cesar Alberto Souza, ex-subcomandante-geral da PM, afirma que a insatisfação da maior parte dos policiais está relacionada ao salário que, como dos demais servidores, está congelado há três anos.
“A nova diretoria (da Amai) está muito mais próxima dos oficiais. Entre a oficialidade é que há esse certo ‘descontentamento’ (por não haver um PM na Sesp). Entre os praças esse não é o fato. O fator de descontentamento (dos praças e soldados) é a falta da data-base, das viaturas que vão e não voltam (do conserto), com o problema da JMK (empresa investigada por irregularidades)”, diz o coronel César, ex-diretor da Amai. “Teta” - Suplente de deputado estadual, o tenente da PM Felipe Juliani (PSL) endossa a posição. Ele se manifestou em redes sociais dizendo que não há por parte da tropa qualquer interesse no comando da Sesp. “Esses representantes que ficaram bravos com o governador de não ter colocado nenhum coronel para ‘mamar’ em alguma ‘teta’ na secretaria. Quem fez esse repúdio não foi a tropa com seus mais de 20 mil praças (soldados), foram quatro coronéis visando seus próprios interesses. Então, senhor governador, a tropa está preocupada com a data base e com o salário”, declarou.
Para Souza, a reunião desta quarta está como uma pauta pré-aprovada. “A questão da data-base é o grande descontentamento não só da polícia, mas de todos os funcionários públicos estaduais. Isso é claro. Mas não vai sair nada (de novidade da reunião”, pontua.
Deputados ‘capitalizam’ insatisfação
Fontes da Polícia Militar ouvidos pela reportagem do Bem Paraná apontam que deputados estaduais interessados em ocupar mais espaço na área da Segurança Pública também estaria por trás da crise entre o governo e os oficiais da corporação. Segundo essa versão, parlamentares da base do governo na Assembleia Legislativa estariam que pleiteiam mais espaço no Executivo estariam “capitalizando” a insatisfação de integrantes do alto escalão da PM com a gestão da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).
Uma saída seria a indicação de um deputado ligado à PM para dirigir a secretaria. O deputado estadual Fernando Francischini (PSL), que foi secretário de Segurança na gestão de Beto Richa (PSDB), teria indicado o deputado Coronel Lee (PSL).
O sargento Dario Junior, diretor de comunicação da Amai, afirma que a reunião é natural e que não está relacionada exclusivamente à pauta da “representação da PM na Sesp”. “É uma reunião com todas associações de classe, com deputados que representam militares estaduais. É uma reunião em que a Amai cede o espaço para que todos possam debater. É uma reunião conjunta, que envolve todos as associações que defendem a classe militar estadual”, garante. “Isso não tem uma conotação política. Evidente que está em voga a necessidade de policiais a equipamentos, materiais e principalmente a data-base, e tem questões pessoais de cada um. Nosso objetivo é garantir o direito da classe. A questão de preferência é uma questão de cada um”, pondera.