segunda-feira, 11 de março de 2019

Contaminação por material biológico: por que se abandona o tratamento?



Ser profissional de Saúde implica em um risco iminente de sofrer acidente com material biológico, especialmente para os profissionais da Enfermagem que frequentemente entram em contato com secreções  no cuidado com o paciente. Mas os caminhos do risco não param por aí, estudantes de graduação e trabalhadores de serviços gerais também estão sujeitos a se contaminar durante as suas rotinas. Pesquisa da Faculdade de Enfermagem (FEN/UFG) analisou mais de dois mil exposições acidentais notificadas entre os anos de 2006 e 2016 em Goiânia e constatou que 41% dos acidentados abandonam o acompanhamento clínico-laboratorial, indicado após um acidente com material biológico. A elevada taxa de abandono reforça a necessidade de adoção de estratégias para garantir a conclusão do tratamento e a redução das situações de risco, sejam entre profissionais e estudantes de Saúde.
A pesquisa aponta ainda que os trabalhadores com carteira assinada, com mais de 40 anos, pertencentes às equipes de Enfermagem, Odontologia e do serviço de limpeza e aqueles que não estavam utilizando o avental no momento da exposição são mais propensos a abandonar o tratamento. Outros fatores que contribuem para isso é sofrer lesão com outros objetos que não sejam agulha e a não comunicação do acidente de trabalho. Tatiana Sardeiro explica que os profissionais têm uma tendência a fazer avaliação prévia da própria exposição: “Essa é uma condição de risco não só para os acidentes, mas também para as pessoas do convívio dela”, completou. A preocupação maior da pesquisadora é com os profissionais responsáveis pela conservação e limpeza, tendo em vista a alta rotatividade, a baixa compreensão dos riscos envolvidos no trabalho e o fato de predominantemente a pessoa-fonte ser desconhecida.
Os dados demonstraram ainda uma falha na rede de atendimento desses indivíduos. Entre 2006 a 2016, foram realizadas mais de 8 mil notificações em Goiânia, destas quase 4 mil tinham deficiência no registro. “Isso mostra o grave problema com relação a organização do próprio estado para o acompanhamento dessas pessoas”, afirmou a professora Anaclara Tipple, orientadora da pesquisa e que há mais de 20 anos pesquisa acidentes com material biológico.