quinta-feira, 6 de abril de 2017

Soldado denuncia tortura durante trote do Exército no Rio



RIO - O soldado da 27ª Brigada de Infantaria Paraquedista sempre sonhou em ingressar no Exército e seguir a carreira militar. De família pobre, morador da Zona Norte do Rio, passou em todas as provas, recebendo as melhores notas nos exercícios físicos e nos saltos aos quais foi submetido durante o intenso treinamento. Queria copiar os passos do tio, capitão da Brigada Paraquedista.

Há duas semanas, numa segunda-feira, cabeça baixa, ele contou que desistiu de tudo depois de passar por uma sessão de trote aplicada por um grupo de 18 militares, todos superiores. Uma espécie de batismo sádico, no qual o calouro é submetido a um intenso espancamento com os pés e mãos amarrados pelos veteranos. No caso do soldado, sem nenhuma chance de defesa, como revelou o colunista Ancelmo Gois.

Durante cerca de dois minutos, o militar conta que levou chutes e foi espancado, com uso de paus, pedaços de fios e de plásticos pelos superiores. No fim, um dos agressores ainda gritou: “Soltem o cachorro. Soltem o cachorro”. Neste momento, um cabo, conhecido no batalhão pelo apelido de “Cachorro Louco”, partiu em direção ao soldado simulando ser um cão e mordendo violentamente suas nádegas, arrancando pedaços.

Quando tudo acabou, restaram inúmeras marcas e ferimentos pelo corpo. Já em casa, ele percebeu um sangramento no pênis, que mais tarde levou à extração de um dos testículos por médicos do Hospital Central do Exército (HCE), onde foi atendido.
— Fiquei muito machucado. Tive que extrair um testículo e os médicos disseram que o segundo está comprometido e também poderá ser extraído. Não vou mais conseguir saltar ou pular de paraquedas. Além disso, estou sob tratamento psiquiátrico e psicológico para tentar superar o que aconteceu.

Eu sonhava em ser militar da Brigada Paraquedista. Me esforcei para passar nos testes. Agora não quero mais. Não tenho mais condições — afirmou o militar, pedindo para não ser identificado.