A enfermeira Ana Paula Maria Ramos é gerente da Usafa (Unidade de Saúde da Família) do bairro Sítio Conceiçãozinha, no Guarujá, onde a mãe morava.
A profissional de saúde acompanhou de perto a evolução da gravidez de Nathanny Ribeiro da Silva desde as primeiras semanas. Ela declarou a jovem, que deixou outros dois filhos pequenos, já havia sido aconselhada pelos profissionais da unidade a não engravidar novamente.
“A primeira gestação dela já foi muito difícil. Ela foi orientada a utilizar métodos contraceptivos, mas ela era muito teimosa”, conta, lembrando que no bairro, uma pequena comunidade carente na cidade do Guarujá, todos se conhecem. “Ela vinha muito à unidade. Mas não seguiu as recomendações e acabou engravidando do segundo filho”.
Quando Nathanny ficou grávida das gêmeas, Ana Paula sabia que o risco seria dobrado. E garante que, tanto ela quanto a equipe da unidade de saúde, fizeram de tudo para garantir que a jovem fosse assistida de perto.
“Ela parecia não entender a gravidade da situação, estava sempre muito alegre e sorridente. E às vezes não aparecia nas consultas do pré-natal. Eu ou alguém da equipe íamos até a casa dela para saber se estava tudo bem”.
O último atendimento que a enfermeira prestou a Nathanny foi no dia 05 de março. A pressão estava normal e a saúde da jovem parecia estável. “Depois desse dia, ela sumiu. Soube que havia procurado o HGA, que é especializado em gravidez de risco. Ela queria muito ter as bebês”.
Fuga do hospital
A Secretaria de Saúde do Estado informou que Nathanny deu entrada no dia 15 de março no Hospital Guilherme Álvaro já com quadro grave, com gestação de risco e histórico de comorbidades. Devido à gravidade clínica, foi internada na UTI e estava assistida por equipe multidisciplinar, retornando à enfermaria no dia 19.
No dia 21 de março, a jovem fugiu do hospital, onde estava internada antes mesmo antes mesmo da conclusão dos cuidados necessários e da alta médica. Um boletim de ocorrência (513981/2021) ao qual o UOL teve acesso foi registrado pela Polícia Civil no dia 22 de março, às 11h17.
Na madrugada do dia 23, a jovem começou a passar mal em casa. Com falta de ar, foi levada de volta ao HGA que, segundo a Secretaria de Saúde do Estado, já havia contatado a família, solicitando o seu retorno.
Ao realizarem uma tomografia, os médicos descobriram uma mancha nos pulmões e ela foi mantida no isolamento da maternidade, com suspeita de covid-19. Os exames deram positivo. No dia 25, a equipe realizou uma cesária de emergência e ela deu à luz as gêmeas, que nasceram prematuras, com sete meses.
Nathanny sequer pôde segurar as crianças. Logo após o parto teve que ser sedada, intubada e assim permaneceu, numa UTI específica para casos da doença, até a última quinta-feira (15), quando – já não respondendo mais aos tratamentos – acabou falecendo, às 12h46.
O corpo da jovem foi sepultado nesta sexta-feira (16), no Cemitério Jardim da Paz, em Guarujá.
Thaís Ribeiro, 21 é irmã de Nathanny. Ela informou ao UOL que, quando ela procurou o HGA, já não se sentia bem. Ela sentia uma pressão no peito e na barriga e já não conseguia respirar normalmente. “Quando minha mãe foi ao HGA receber a notícia do falecimento dela, disseram que a causa da morte tinha sido um problema no coração, não a covid-19. Mas quando ela voltou, após ter fugido, colocaram ela numa sala com um paciente que já estava intubado por conta da doença. E ela começou a ficar com muito medo de ter a covid. Acreditamos que ela acabou pegando lá”.
“Foram seguidos todos os protocolos, tanto para a gestação de alto risco quanto para casos de coronavírus, sendo incorreto afirmar que ela teria se infectado na unidade, uma vez que deixou o serviço contra indicação médica. Durante a internação, o hospital prestou atendimento dentro dos protocolos, forneceu informações aos familiares e segue à disposição dos mesmos”, afirmou a Secretaria de Saúde, na nota.
Avó precisa de ajuda
Nathanny morava com o namorado e não trabalhava. Agora os quatro filhos da jovem estão sob os cuidados da avó materna, que não quis dar entrevistas por conta do luto. A família, de origem muito humilde, precisa de doações para as gêmeas, Lívia e Lavínia, que nasceram saudáveis, livres da covid-19 e já estão sob o atendimento direto da enfermeira Ana Paula.
Fraldas, produtos de higiene, leite em pó podem ser encaminhados à Usafa do Sítio Conceiçãozinha, que fica na R. Nova Esperança, 11, em Vicente de Carvalho.
“Queremos ajudar, conhecemos a família e tínhamos um carinho grande pela Nathanny. Além de ser gerente da Usafa, estou sempre tentando fazer mais, por ser uma comunidade muito carente. Quem puder ajudar, é só me procurar lá na Usafa”, concluiu Ana Paula.
UOL