sexta-feira, 12 de março de 2021

Sistema de Saúde do Paraná pode entrar em colapso nas próximas semanas

 

A situação é alarmante. O atual cenário da Covid-19 no Paraná e no Brasil atinge número jamais vistos, com uma variação do vírus com um poder de contaminação muito maior, mais agressivo e letal. É o que afirmam os especialistas reunidos hoje em sessão remota realizada pela Frente Parlamentar do Coronavírus da Assembleia Legislativa. O encontro reuniu representantes da saúde e educação, além de deputados estaduais.

Para os participantes da reunião, o momento é de alerta máximo. O diretor de gestão da Secretária de Estado da Saúde (SESA), Vinícius Filipak, alertou que o sistema de saúde está no máximo de sua capacidade. “O cenário não poderia estar pior. A situação está tensa e delicada. No auge do inverno tivemos uma ocupação de 75% dos leitos. Nas últimas três semanas, tivemos uma elevação absurda. Digo que estamos diante de uma nova Covid. Tem de ser entendido como uma nova doença. A rapidez e a infecção são muito grandes”, disse.

Filipak lembrou que a gravidade da doença também é diferente. “Temos menos casos, mas eles são muito mais graves. A mortalidade é elevadíssima. Cerca de ¼ das pessoas internadas morrerem. Apesar de todos os esforços, estamos chegando a uma mortalidade de 30% esta semana para quem é internado”, afirmou. Ele informou que, hoje, 1185 pessoas esperam a internação, sendo 567 na UTI e 618 em leitos clínicos. “Nenhum estado conseguirá aumentar o número de leitos infinitamente”.

O diretor do centro de estatística do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Daniel Nojima, trabalha no estudo de projeções relacionadas à Covid. Ele informou que a projeção do órgão é que a taxa de ocupação de UTIs fique em 96,7% nos próximos dias. Caso as piores projeções se concretizem, o número pode chegar a 102,7%, quando o sistema entra em colapso total. Isto pode ocorrer na próxima semana, no dia 16 de março.

O diretor-técnico do Samu-Oeste, Rodrigo Nicácio, que faz o atendimento de pacientes com Covid, definiu a situação como dramática. “Estamos muito cansados. As equipes estão dobrando turno de trabalho, cuidando de até 20 pacientes. A demanda é crescente e o atendimento cada vez mais complexo. Caminhamos para três mil mortes por dia. A luta agora é para não se contaminar. Quem se contaminar e tiver uma evolução ruim, não vai ter leito”, alertou.

Aulas presenciais – O retorno às aulas presenciais, programado para a segunda-feira (15) em toda a rede de ensino público estadual no Paraná, foi debatido e a preocupação com a disseminação da cepa da variante amazônica do vírus foi demonstrada pela representante da APP Sindicato, Walkiria Mazeto. Segundo ela, as escolas municipais e estaduais paranaenses não têm estrutura adequada para garantir a biossegurança dos alunos.

“Não é um ambiente controlado. Se o Estado não consegue dar conta do uso de máscaras e distanciamento, como os professores e profissionais vão controlar a interação social aguardada pelas crianças e adolescentes? Nossos profissionais usam transporte coletivo urbano para ir às escolas e um professor interage durante o dia com pelos menos 100 estudantes”, declarou Walkiria.

O representante da Secretaria de Estado da Educação, diretor de educação Roni Miranda, disse que a rede de ensino está totalmente adequada. “Acreditamos no espaço escolar como ambiente controlado, com profissionais de educação, professores, pedagogos e administrativo preparados para receber os estudantes com orientação da secretaria”, alegou Miranda.

Segundo o diretor, as escolas seguem o que foi estabelecido em protocolos para a comunicação das autoridades de saúde estaduais e regionais no caso de contaminação de estudantes e profissionais. “Pode-se suspender as aulas daquele turno ou de toda escola”, afirmou. “Houve evasão de 70 mil estudantes em 2020, tanto do fundamental quanto do médio. O ensino remoto do Paraná foi exemplo para o Brasil, mas é paliativo. O momento agora é de retorno, presencial”, disse.

A afirmação foi contestada por Walkiria Mazeto. De acordo com ela, 70 escolas que tiveram casos confirmados no retorno às aulas em fevereiro não tiveram a suspensão das atividades autorizadas pela SEED. “Peço a esta Frente que não tenhamos o retorno presencial às aulas na próxima segunda-feira, temos total condição de manter o trabalho remoto neste momento. Aos representantes da SESA, peço que seja definido o não retorno às aulas”.

A solicitação foi acompanhada pela deputada Luciana Rafagnin (PT). “Como vamos colocar em risco nossas crianças, professores e profissionais da educação? Sugiro encaminhar um ofício ao governador para que as aulas sejam suspensas em pelo menos 30 dias. Precisamos ter a situação controlada. Que este requerimento seja encaminhado com urgência”, cobrou. “Tivemos um ano de aula remota num cenário de maior controle da pandemia do que o que estamos vivendo agora e sabendo, pelo exemplo de outras localidades, como Manaus, que o retorno das aulas presenciais por lá foi fator, sim, de agravamento do quadro. É hora de priorizar salvar vidas”, completou. O coordenador do grupo, deputado Michele Caputo, afirmou que todos os encaminhamentos serão apresentados às secretarias da Saúde e da Comunicação.

De acordo com Douglas Oliani, diretor do Sindicato das Escolas Particulares de Curitiba, 95% das escolas particulares atenderiam a todos os critérios para voltar às aulas presenciais. Ele pediu ajuda dos parlamentares paranaenses para encaminhar à Câmara Federal a recolocação dos professores e profissionais de educação na escala de prioridades da vacinação no país, de quarto para segundo grupo a receber a imunização