terça-feira, 17 de setembro de 2019

Tumultos marcam votação de 'escola sem partido' na Assembleia Legislativa do PR



Pelo menos três pessoas foram retiradas das galerias do plenário da Assembleia pelos seguranças da Casa, por ordem do presidente do Legislativo, deputado Ademar Traiano (PSDB), sob a acusação de causarem tumulto e desrespeitarem os parlamentares durante a discussão do polêmico projeto "escola sem partido", nesta segunda-feira (16) que pretende restringir discussões sobre política, sexualidade e gênero nas salas de aula. Manifestantes contrários e favoráveis à proposta entraram em confronto, trocando palavras de ordem e também vaiando os deputados que discursavam sobre a matéria.


Protocolado em dezembro de 2016, o “escola sem partido” tem o apoio da bancada evangélica e é uma das bandeiras do grupo político do presidente Jair Bolsonaro. Ele chegou a entrar em pauta em 28 de maio último, mas foi retirado por dez sessões, por 26 votos a 22. A iniciativa é chamada pelos professores de “lei da mordaça”, por ferir a liberdade de ensino. Já os defensores alegam que o projeto visa combater a suposta "doutrinação política" nas escolas públicas.
Primeiro a falar, o deputado Goura (PDT) defendeu a rejeição do projeto. Segundo ele, o "escola sem partido" seria apenas "uma cortina da fumaça" defendido por uma "cruzada moralista e hipócrita". Já o deputado Alexandre Amaro (Repub) defende a iniciativa. "O projeto não é inconstitucional. Apenas reforça direitos e deveres que já estão na lei. Não cria nada de novo", alegou. 
Um dos autores do projeto, o deputado Ricardo Arruda (PSL) defendeu a proposta. "O projeto visa apenas proibir as malditas ideologias, seja de gênero ou política", afirmou Arruda. Ele alegou que pesquisas indicariam que a maioria da população seria a favor da proposta, e que seu partido, o PSL, vai divulgar os nomes dos deputados que votarem contra o projeto. "Eu faço questão de mostrar. Nós do PSL vamos divulgar", ameaçou Arruda, que chegou a bater boca com o presidente da Assembleia, por não dar mais tempo para que ele falasse. "Estou achando que o senhor também não é favorável ao projeto", disse o parlamentar. 
As declarações de Arruda motivaram mais uma onda de vaias dos manifestantes, levando Traiano a ameaçar esvaziar as galerias. 
Em seguida, o líder do PPS, deputado Douglas Fabrício, leu parecer da direção nacional do partido contrário ao projeto. Segundo ele, a Constituição Federal é clara ao definir que a educação é muito mais do que simplesmente "transmissão de conteúdo", e tem como princípios a liberdade de aprender e de ensinar e o pluralismo de ideias. 
Nesse momento, Traiano mandou os seguranças retirarem uma mulher que começou a gritar contra a posição de Fabrício. O deputado do PPS também discutiu com Ricardo Arruda, que pediu um aparte para reclamar do tempo a mais concedido a ele. "Eu respeitei Vossa Excelencia. Então me respeite", disse Fabrício, que afirmou "não ter medo de partido nenhum". 
Por votla das 16h13, Traiano teve que mandar retirar outra manifestante que gritava durante o discurso do deputado Professor Lemos (PT), contrário ao projeto. "É mentira que nossas escolas tenham partido. Se fosse verdade, só seriam eleitos deputados de um partido", disse o parlamentar. 
Logo em seguida, o presidente da Assembleia mandou retirar um terceiro manifestante que usava um boné e era contrário ao projeto. 
Constitucionalidade - O Ministério Público (MP) e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) afirmam que a iniciativa é inconstitucional, por ferirem a liberdade de ensino. Tanto o MP quanto a OAB já manifestaram a intenção de recorrer à Justiça caso a proposta seja aprovada. Em junho do ano passado, a Justiça suspendeu votação de projeto semelhante na Câmara de Curitiba.
O projeto reproduz praticamente o mesmo texto de propostas semelhantes que vêm sendo apresentados por parlamentares das bancadas evangélicas e de outros setores em câmaras municipais e assembleias de todo o País. Ele estabelece a obrigatoriedade de fixação de cartazes nas escolas informando que é proibida em sala de aula, a prática de “doutrinação política e ideológica”, bem como a veiculação de conteúdo ou a realização de atividades de cunho religioso ou moral que possam estar em conflitos com as convicções dos pais ou responsáveis.
A proposta prevê ainda que alunos e pais de estudantes poderão fazer denúncias anônimas contra os professores, que ficariam também proibidos de estimular seus alunos a participar de manifestações. Em caso de descumprimento da norma, eles estariam sujeitos a processos administrativos e sofrer punições que chegariam à demissão. “‘Escola sem partido’ quer coibir apenas o que for contrário ao governo”, critica Hermes Leão, presidente da APP-Sindicato, que promete mobilizar os professores na sessão de hoje para pressionar pela rejeição do projeto.
Uma ação que questiona a constitucionalidade de uma lei aprovada pela Assembleia Legislativa de Alagoas em 2016, semelhante ao “escola sem partido” aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal. O julgamento estava previsto para novembro do ano passado, mas foi adiado pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli.