terça-feira, 2 de junho de 2020

Manifestos pró-democracia ganham força e unem rivais

Torcidas de futebol organizaram protesto contra o presidente Jair Bolsonaro. 

A escalada da tensão política no País em meio à retórica persistente do presidente Jair Bolsonaro e aliados contra instituições estimulou nos últimos dias uma série de manifestações em defesa da democracia. Em forma de manifestos, artigos ou mesmo de atos nas ruas, os alertas e as críticas ao atual governo uniram segmentos diversos da sociedade, rivais na política e até mesmo no futebol.

Em Brasília, o presidente voltou a participar ontem de um ato crítico à atuação do Supremo Tribunal Federal. Alguns manifestantes empunharam uma faixa pedindo "intervenção militar". Como tem feito nas manhãs dominicais, Bolsonaro sobrevoou ao ato de helicóptero, acompanhado do ministro da Defesa, Fernando Azevedo. Ele chegou a montar em um cavalo ao se dirigir aos apoiadores.

Horas antes, o decano do Supremo - ministro Celso de Mello - havia encaminhado mensagem a interlocutores na qual afirma que bolsonaristas "odeiam a democracia" e pretendem instaurar uma "desprezível e abjeta ditadura militar". Ele associa nas mensagens o momento político nacional à ascensão de Hitler na Alemanha. "É preciso resistir à destruição da ordem democrática", escreveu em letras maiúsculas o ministro relator do inquérito que apura suspeita de interferência do presidente na Polícia Federal.

Em artigo no Estadão, publicado domingo, Eros Grau, ex-ministro da Corte máxima do País, tratou da separação dos poderes e concluiu que "qualquer insurgência contra essa face do Estado que o Supremo Tribunal Federal é afronta a ordem e a paz social, prenuncia vocação de autoritarismo, questiona a democracia". Juristas também publicaram manifesto intitulado Basta! no qual afirmam que Bolsonaro exerce o mandato "para arruinar com os alicerces do nosso sistema democrático. A defesa da "vida, liberdade e democracia" motivou também a reunião de um grupo de mais de 1,6 mil personalidades de diferentes setores da sociedade e diversos segmentos ideológicos, que subscreveram um manifesto chamado Estamos #Juntos, publicado no sábado no Estadão e em outros jornais do País.

Uma manifestação organizada no domingo por grupos ligados a torcidas organizadas de futebol reuniu corintianos, palmeirenses, santistas e são-paulinos na Avenida Paulista. Vestidos de preto, eles entoaram coro pela democracia e contra Bolsonaro, fazendo contraponto a um grupo menor de apoiadores do presidente presente na avenida. Houve confronto entre manifestantes e a Polícia Militar dispersou o grupo de torcedores com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.