segunda-feira, 15 de março de 2021

Fila de ambulâncias e difícil escolha de quem entubar revelam colapso em Curitiba

 


O colapso do sistema de saúde em Curitiba por conta do avanço da pandemia do novo coronavírus ganhou uma cena marcante na noite deste domingo (14 de março). No Hospital de Clínicas (HC), um dos maiores estabelecimentos de saúde na capital paranaense, uma fila de ambulâncias se formou durante a noite. Sem vagas disponíveis nos 13 hospitais que atendem casos Covid-19 pelo sistema público, o jeito foi estacionar e esperar.

Quando a equipe do Bem Paraná chegou ao local, duas ambulâncias ainda aguardavam por um encaminhamento para os pacientes. Contudo, como se pode ver no vídeo abaixo, encaminhado à reportagem via redes sociais, a fila chegou a ter pelo menos quatro veículos.

Os dados mais recentes sobre a ocupação em hospitais de Curitiba e região metropolitana, divulgados ontem pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), já apontavam para um cenário de muita dificuldade, com apenas oito vagas livres em UTI nos 13 hospitais que estão recebendo pacientes Covid.

'Tem vez que demora duas, duas horas e meia para conseguir levar o paciente'

Um socorrista do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que conversou com o Bem Paraná na condição de ter sua identidade mantida em sigilo, fez alguns relatos importantes sobre a situação na linha de frente. Segundo ele, o plantão deste domingo foi até tranquilo, embora as UPAs pela cidades estivessem lotadas, "sem lugar até mesmo para sentar lá dentro" e com fila para o lado de fora.

Ainda assim, foi 'menos pior' do que os plantões mais recentes. "Meu penúltimo plantão foi Covid em cima de Covid. Era pegar na unidade de saúde e levar para a UPA, no rádio só escutava viatura falando de Covid positivo, que era para levar para tal UPA", relata o profissional, contando ainda que nos últimos dias houveram situações em que foi necessário esperar um par de horas para conseguir colocar os enfermos para algum leito. "Tem vez que leva duas, duas horas e meia para levar o paciente".

Um outro profissional de saúde, que atua como enfermeiro numa UPA e em um hospital da cidade, também conversou com o Bem Paraná e revelou que as equipes na linha de frente já estão tendo de escolher quais pacientes serão ou não entubados, uma decisão que na prática pode significar uma escolha entre a vida e a morte.

Além disso, essa mesma profissional também conta que o oxigênio disponível tem sido utilizado de forma bastante parcimoniosa, para que não venha a faltar em breve. O relato é corroborado ainda pelo socorrista do Samu. 

"A gente está começando a ter falta de O2, a empresa de oxigênio não está suportando. A procura é muito grande nas UPAs, nos hospitais, e estamos tendo de regular bem. O Brasil, o mundo não estava preparado para isso. E estamos aí, vendo aglomeração. A luta é muito grande. Para colocar um cilindro de O2, dois pacientes, não dura nem meio-dia."