sábado, 1 de maio de 2021

Bolsonaro tenta se aproximar do TCU após pente-fino na Saúde

 


Sob ameaça da CPI da Covid, o presidente Jair Bolsonaro tenta se aproximar de ministros do Tribunal de Contas da União (TCU). No mesmo dia em que a CPI foi instalada, na terça-feira, 27, e senadores da oposição avisaram que pedirão informações sobre a atuação do governo na pandemia a vários órgãos de controle, Bolsonaro se reuniu com integrantes do tribunal. O encontro ocorreu depois que a área técnica do TCU apontou uma série de falhas do governo no enfrentamento da covid-19 e logo após a equipe econômica mostrar preocupação com a possibilidade de Bolsonaro ser responsabilizado por irregularidades no Orçamento deste ano.

"Salientei (no encontro com Bolsonaro) que o fundamental agora é a gente estabelecer um diálogo para recuperar a economia do País. Temos que evitar um confronto e que as instituições todas têm que se unir para defender a sociedade brasileira e combater especialmente a morte que está acontecendo", disse ao Estadão o ministro Augusto Nardes, um dos que foram recebidos com um café-da-manhã no Palácio da Alvorada.

Dos nove ministros titulares do TCU, seis participaram - três deles de forma virtual. Augusto Sherman, ministro substituto, também foi ao Alvorada. A presidente do tribunal, Ana Arraes, porém, foi uma das ausentes. Questionada sobre o motivo de ter recusado o convite, ela não deu qualquer justificativa e informou apenas que designou Nardes para representá-la.

Bolsonaro levou à reunião os ministros Marcelo Queiroga, da Saúde, e Paulo Guedes, da Economia. Os dois ministérios viraram foco de problemas para o governo e passaram a ser foco do tribunal. A pasta comandada por Guedes travou uma queda de braço com o Congresso por causa do espaço destinado às verbas parlamentares no Orçamento de 2021. Já a área chefiada por Queiroga está sob o escrutínio da CPI da Covid, que apura erros e omissões do governo no combate à pandemia.

"O governo acha que consegue vacinar no segundo semestre todos os brasileiros. O Guedes fez uma avaliação do aspecto econômico, dizendo que o Brasil está em uma posição de vantagem em relação a outros países, elencou uma série de números, que supera o Japão, supera várias nações. Mas esses números cabe ao governo fazer a sua defesa, não a mim", afirmou Nardes.

De acordo com relatos de outros participantes do evento, Bolsonaro falou superficialmente sobre o combate ao coronavírus e de vacinas e focou nas medidas econômicas do governo durante a pandemia, como o auxílio emergencial e o programa de redução de jornadas e salários em empresas privadas.

Para o presidente, é importante ter uma boa relação com o TCU porque cabe ao tribunal analisar se há irregularidades orçamentárias por parte do Executivo. Em tempos de pandemia, quando as contas do governo precisam acomodar diversos gastos emergenciais com auxílio social e ajuda às empresas, a preocupação aumenta. Foi com base em um relatório da corte de contas que apontava "pedaladas fiscais" que o Congresso determinou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016.