segunda-feira, 24 de maio de 2021

Covid-19: Falsa sensação de 'melhora' esconde catástrofe da 3ª onda da pandemia


 














Com o pai sufocando em uma maca em meio ao corredor do Hospital Estadual Platão Araújo, em Manaus, Ronaldo Vasconcelos abanava o homem de 61 anos que minutos antes havia passado por uma parada cardiorrespiratória. Sem conseguir uma vaga em UTI que o socorresse, o oxigênio comprado por Vasconcelos não foi suficiente para manter José Ferreira Vasconcelos vivo, e ele morreu no final de Janeiro, em meio à pior crise vivida pela capital amazonense durante a pandemia da Covid-19.

Passados quase quatro meses, Manaus respira aliviada com números de novos casos, ocupação de leitos e óbitos muito melhores que os observados no final de janeiro, quando colapsado, o sistema de saúde não foi capaz de cuidar de seus pacientes, que foram enviados para tratamento em outros Estados. Especialistas apontam, no entanto, para o risco de uma terceira onda ainda mais agressiva e fatal no horizonte não apenas de Manaus, mas de regiões espalhadas por todo o país.

“Temos atualmente uma ilusão de tranquilidade gerada pela queda após termos passado, primeiramente em Manaus, e depois no resto do país, por um pico muito agressivo, mas a realidade é muito preocupante; estamos hoje, no melhor momento de controle da pandemia em 2021, com indicadores piores que aqueles dos momentos mais críticos de 2020”, alerta o coordenador do Programa Infogripe, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Marcelo Gomes. Monitorando os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em todo o país, os pesquisadores vêm alertando para as medidas de flexibilização do isolamento social em diferentes regiões.

“Estamos normalizando situações de calamidade porque a força do último pico fez a população perder a referência”, comenta Gomes. Ele explica que a grande maioria das regiões do país se encaixa, neste melhor momento de 2021, apresenta o pior nível de transmissão do vírus segundo classificação do CDC, o centro de controle de doenças dos EUA. Com transmissão superior a 10 novos casos semanais por 100 mil habitantes, todo o país tem nível crítico de circulação do vírus.