segunda-feira, 31 de maio de 2021

Vacinas da Covid-19 podem ser menos efetivas em mulheres, sugere estudo feito nos EUA


 














Ensaios clínicos realizados nos Estados Unidos sugerem que as vacinas contra o coronavírus são ligeiramente menos eficazes entre as mulheres do que entre os homens. Um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) observou que 63% dos casos de infecções após tomar as duas doses da vacina aconteceram em pacientes do sexo feminino.

Os cientistas agora querem entender por que as mulheres podem responder de maneira diferente os imunizantes. “O CDC está trabalhando com departamentos de saúde estaduais e territoriais para investigar infecções por Sars-CoV-2 entre pessoas que estão totalmente vacinadas e monitorar tendências nas características dos casos e variantes de SARS-CoV-2 identificadas em pessoas com essas infecções”, afirma um comunicado publicado pela instituição.

De maneira geral, casos de Covid-19 diagnosticados em pessoas totalmente vacinadas após pelo menos duas semanas são raros: apenas 0,01% das 101 milhões de pessoas nos Estados Unidos foram totalmente vacinadas contra o coronavírus desenvolveram infecções invasivas até 30 de abril. Das 10.262 diagnosticadas, 6.446 (63%) ocorreram em mulheres, e a idade média das pacientes foi de 58 anos.

Com base em dados preliminares, 27% das infecções causadas após os pacientes tomarem a vacina eram assintomáticas, 10% foram hospitalizados e 2% morreram. Entre os 995 pacientes hospitalizados, 29% eram assintomáticos ou hospitalizados por um motivo não relacionado a Covid-19. A idade média dos pacientes que morreram foi de 82 anos, e 18% falecidos eram assintomáticos ou morreram de uma causa não relacionada ao coronavírus.

Em 5% dos casos notificados foi possível identificar as variantes do vírus: 56% eram B.1.1.7 (a chamada variante do Reino Unido), 25% eram B.1.429, 8% eram P.1 (variante brasileira do coronavírus) e 4% eram B.1.351 (variante sul-africana).

Esses dados são consistentes com os ensaios clínicos já realizados. A vacina da Pfizer apresentou uma taxa de eficácia de 96,4% em homens, mas 93,7% em mulheres. Sua taxa geral de eficácia é de 95%, uma média desses dois resultados. A vacina da Moderna, por sua vez, apresentou uma taxa de eficácia de 95,4% em homens, mas 93,1% em mulheres. E a injeção da Johnson & Johnson reduziu o risco de Covid-19 moderado a grave em 68,8% nos homens, mas 63,4% nas mulheres.

O CDC aponta, ainda, que as conclusões do relatório estão sujeitas a pelo menos duas limitações: o número de casos provavelmente está subnotificado e os dados da sequência SARS-CoV-2 estão disponíveis apenas para uma pequena proporção dos casos relatados. “Muitas pessoas com infecções, especialmente aquelas que são assintomáticas ou que apresentam doença leve, podem não procurar o teste”, explica o órgão.

Algumas explicações possíveis

Normalmente, mulheres apresentam respostas imunológicas mais fortes às vacinas do que os homens, uma vez que níveis mais elevados de estrogênio estimulam o sistema imunológico. Cientistas, porém, suspeitam que as variantes do coronavírus podem ter impactado a taxa de eficácia da vacina.

Para Sabra Klein, codiretora do Centro Johns Hopkins para Saúde Feminina, Sexo e Pesquisa de Gênero, é possível que as vacinas sejam mais eficazes para ajudar o corpo para reconhecer o coronavírus original identificado em Wuhan, porém menos efetivas contra suas variantes – e isso se reflita especialmente entre as mulheres.

“Toda a base da vacinação é ter algumas células de memória para que, caso você seja infectado com o vírus, se for mesmo possível, você fique assintomático em vez de sintomático porque seu sistema imunológico já foi treinado”, explica Klein. “Portanto, pode ser que parte desse treinamento e a especificidade desse treinamento sejam maiores para mulheres do que para homens”, completa, em entrevista à Business Insider.

Outra possibilidade é o fato de que mais mulheres do que homens foram vacinadas nos Estados Unidos até agora, e as mulheres podem estar mais inclinadas a procurar testes Covid-19 ou relatar sua doença se estiverem apresentando sintomas. As mulheres também representam a maioria dos profissionais de saúde, que são regularmente testados para infecções por coronavírus no trabalho.

“As diferenças biológicas entre homens e mulheres e como isso poderia estar acontecendo em resposta a essas vacinas são dados que não receberam a atenção adequada”, avalia Klein. “Definitivamente, não acho que esse tipo de coisa deva ser descartada – e isso é o que costuma acontecer porque é mais fácil pensar que isso é preconceito do que algo real”, completa.

Olhar Digital via Business Insider/CDC