quarta-feira, 7 de abril de 2021

Brasil supera 4 mil mortos por covid-19 em 24h

 


Brasil ultrapassou pela primeira vez nesta terça-feira, 6, a marca de 4 mil mortes pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, com 4.211 registros, recorde na pandemia. Ainda com aumento de infecções após quase um mês de medidas restritivas e vacinação lenta, a crise sanitária deve piorar antes de dar trégua e o País pode chegar a 5 mil vítimas diárias, segundo especialistas. Na contramão, outros países que tiveram número alto de óbitos - como Estados Unidos e Reino Unido - têm apresentado tendência de redução.

Apenas em março, a média de mortes diárias pelo coronavírus no Brasil ficou em 2.147, transformando este no pior mês de toda a pandemia no País, segundo dados do consórcio de imprensa, formado por Estadão, Folha, G1, O Globo, Extra e Uol - a média dos últimos sete dias está em 2.775. Em contrapartida, a média dos Estados Unidos, que concentra a maior parte de vítimas da covid-19, ficou em 1.223 no mesmo período. Grande parte dos especialistas defende lockdown para conter o avanço do contágio, mas a restrição mais severa só foi adotada por algumas cidades, como Araraquara, que viu redução significativa de doentes e mortes.

Domingos Alves, epidemiologista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, prevê que ainda neste mês a situação se agrave, com expectativa de atingirmos um patamar de 100 mil infecções diárias. Os efeitos desses casos na quantidade de internações e óbitos ainda leva semanas para aparecer, por causa do perfil de evolução da doença. Em vários Estados, os sistemas de saúde chegaram ao colapso e há mortes de pacientes na fila de espera por leito.

O País tem registrado mais de 60 mil novos diagnósticos diários há 32 dias, maior patamar de toda a pandemia. Ao longo de março, foram mais de 2,2 milhões de pessoas que receberam a confirmação da covid, 63% a mais do que em fevereiro. A média diária passou de 56 mil casos em 1º de março para 75 mil no último dia do mês, alta de 34%. Apenas nos últimos dias que essa média tem apresentado queda, com o feriado da Páscoa, o que leva ao represamento de registros. Além disso, o País tem um sistema falha de testagem, o que eleva o risco de subnotificação e dificulta o controle sobre o avanço da transmissão

Segundo Alves, a média móvel ainda deve chegar a 4,5 mil ou 5 mil mortes. O professor aponta que a disparidade no avanço da pandemia entre o Brasil e outros países se dá por uma série de fatores que vão desde estratégias de vacinação até medidas efetivas de restrição, como o lockdown."Países com processo de vacinação mais acelerado que o nosso conseguiram controlar casos. No início do ano, a Grã-Bretanha decretou lockdown e logo depois atingiu o seu maior pico. Em pouco mais de um mês reduziram os casos de 60 para 5 mil por dia", afirma Alves. "Esse cenário mostra que o Brasil, em toda a história da pandemia, não adotou nenhum protocolo dos países que controlaram a epidemia efetivamente. Essa situação tem culpado, e não é o vírus."

Com o novo recorde, o Brasil chegou ao total de 337.364 mortes pelo coronavírus desde o início da pandemia, e outros 13.106.058 testes positivos em todo o País, dos quais 82.869 foram registrados entre esta segunda-feira e esta terça-feira. Para o epidemiologista e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz Paulo Nadanovsky, faltou uma ação coordenada entre os governos federal, estadual e municipal. "A resposta curta e simples é que sim, se a gente tivesse tentado fazer o que outros países fizeram, não estaríamos nessa situação", afirma.

Nadanovsky se refere às medidas tomadas em países onde a estratégia de combate à pandemia seria baseada na "eliminação" ou "supressão" do vírus, ao contrário do que aconteceu aqui, onde houve apenas reação de "mitigação". "Desde o início, temos alternado entre políticas de mitigação e, quando isso começa a dar certo, as atividades voltam de forma muito rápida e antes de os casos terem caído drasticamente", avalia. "Estamos lidando agora com o resultado desse relaxamento mais imediato, que aconteceu por volta de setembro e outubro, quando tudo parecia mais tranquilo."