terça-feira, 3 de novembro de 2020

Combate ao desperdício, inclusão social e ajuda a entidades: tudo no Banco de Alimentos



Em Curitiba, passam 17 mil pessoas a cada dia e muitas toneladas de frutas, verduras, legumes e cereais pela Ceasa (Centrais de Abastecimento). Uma parte de todo esse volume de alimentos acaba não sendo aproveitada no comércio. Quem evita um prejuízo com o desperdício é o Banco de Alimentos da Ceasa, uma iniciativa de coletar e aproveitar produtos não comercializados. E quem faz a separação e embarque desses alimentos é um grupo de detentos e detentas do sistema prisional do Paraná. Ao mesmo tempo em que eles ajudam a reduzir o desperdício de alimentos, eles também conseguem reinclusão social e ainda ajudam diversas famílias e entidades da Grande Curitiba.

O Banco de Alimentos já existe há alguns anos, com o objetivo de aproveitar alimentos não comercializados na Ceasa e doar para instituições e famílias em situação de vulnerabilidade social. A iniciativa de se aproveitar o trabalho dos detentos começou em abril deste ano, por causa de uma situação peculiar. A quantidade de alimentos não comercializados aumentou, devido à pandemia do coronavírus. Assim, também aumentou a demanda por mão de obra para separação e carregamento desses alimentos. E firmou-se um convênio entre a Ceasa, o Departamento Penitenciário do Paraná (Depen) e o Escritório Social.

Os detentos que trabalham na Ceasa fazem parte do grupo de monitorados. Cumprem pena com tornozeleira eletrônica; não estão na cadeia. A equipe inicia os trabalhos às 7 horas e vai até as 15 horas. A coleta é feita nos boxes dos permissionários ou no mercado do produtor. As mulheres fazem o processamento e seleção dos alimentos e os homens trabalham na carga e descarga. Atualmente, todo esse trabalho é executado por 34 detentos ao todo, e apenas por eles. E a equipe de monitorados dá conta do recado. Mesmo considerando que, depois que a pandemia começou, houve meses em que o volume de alimentos era 100% superior ao mesmo mês no ano passado.

“Tem muito preconceito quanto a isso, mas esse trabalho para nós é importante e para eles também. Eles estão tendo trabalho”, disse o diretor técnico e gerente da Ceasa Curitiba, Paulo Ricardo da Nova. “Trabalham de forma excepcional. É um orgulho ter eles aqui conosco, são parceiros. Se precisar trabalhar um pouco mais, eles estão ali. Eles se orgulham do que fazem”.

Por mês, os detentos movimentam 280 toneladas de alimentos, que são distribuídos a dois tipos de público. Um deles é composto por instituições como as que trabalham com idosos, hospitais, associações de moradores, abrigos de crianças e adolescentes e contraturno escolar. O outro é um grupo de 250 famílias do entorno do Tatuquara e da Grande Curitiba – antes do início do trabalho dos detentos, as famílias atendidas chegavam a 150, no máximo. “Ampliamos o atendimento. Hoje temos 130 entidades e de 80 a 90 mil pessoas atendidas”, afirmou Paulo da Nova.

Os alimentos coletados pelo Banco de Alimentos são aqueles que ainda estão bons para consumo, mas perderam valor comercial – por exemplo, frutas com aparência pior que aquelas frutas “feinhas” que os clientes rejeitam nos supermercados. E há ainda o excedente da comercialização diária na Ceasa. Não fosse o Banco, esses produtos seriam descartados. “Antes do Banco, basicamente era jogado fora. A partir do momento que existe o banco, o que sobra para nós, a gente faz a doação”, afirmou Josiliane Dumaiski, que comercializa pimentões, pepino japonês, tomate, berinjela e abobrinha na Ceasa. Segundo suas contas, o excedente doado a cada mês dá quase uma tonelada. “O pouco que a gente pode ajudar é muito para aqueles que pouco têm. É gratificante”.

“Reduzimos pela metade aquele resíduo que não usa ou vai para compostagem”, diz Paulo da Nova. “Dispomos de gente nos quatro pontos de descarte. Quando a mercadoria chega lá, nosso pessoal seleciona o que é possível utilizar e só descarta realmente o que não tem condições”. Ou seja, o programa virou um grande aliado não apenas para evitar o desperdício, mas também para a segurança alimentar da população vulnerável durante a pandemia. E, com o serviço, os presos conseguem diminuir as penas – a cada três dias de trabalho, a pena é reduzida em um dia.

Há Bancos de Alimentos também nas outras unidades atacadistas da Ceasa, onde a distribuição é feita em parceria com as prefeituras de Londrina, Maringá, Cascavel e Foz do Iguaçu. “É uma quantidade significativa de alimentos, distribuídos a pessoas em situação de vulnerabilidade, que muitas vezes não têm condições de consumir esses produtos, já que os alimentos in natura muitas vezes são mais caros e a prioridade é comprar os itens da cesta básica”, disse o presidente da Ceasa, Éder Eduardo Bublitz.