segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Morte de peão brasileiro nos EUA comove competidores de rodeios

 


“Respeitem os peões. Quando saímos de casa, não sabemos se iremos voltar. Quando acenamos a cabeça nos bretes não sabemos se iremos fazer isso outra vez.” Foi assim que João Ricardo Vieira, atualmente o número 5 do ranking mundial, homenageou, no Facebook o amigo Amadeu Campos Silva, que morreu pisoteado por um touro neste domingo (29/8) na arena de Fresno, nos Estados Unidos, na disputa da categoria Velocity Tour, segunda divisão da PBR mundial. Amadeu foi o primeiro brasileiro a morrer nas disputas da PBR americana, que é dominada pelos brasileiros há muitos anos.

Vieira disse, nesta segunda (30/8), à Globo Rural, que esteve na noite de domingo com os pais de Amadeu, que também estão nos Estados Unidos, prestando sua solidariedade. “Eles estão desesperados. Amadeu era o caçula e sempre ajudou a família. Os pais vieram para cá para viver com ele esse sonho de buscar uma vida melhor. O menino tinha o sonho de ajudar a família e comprar um sítio no Brasil.”

Segundo Vieira, Amadeu tinha seguro de vida, como todos os peões da competição. A Professional Bull Riders está dando todo o suporte aos pais e vai pagar as despesas se eles quiserem enterrar o corpo do peão nos EUA ou no Brasil. “Estamos todos muito abalados. A gente sabe dos riscos, mas nunca estamos preparados para uma tragédia como essa.”

Lucas Belli Teodoro, 33 anos, mais conhecido como Gauchinho, primeiro e único salva-vidas de rodeio brasileiro a atuar na PBR nos EUA, disse que a morte de Amadeu foi uma tragédia. “Todos estão muito sentidos porque ele era um menino querido por todos.” Gauchinho não estava na arena, mas conta que Amadeu, assim como a maioria dos peões brasileiros que disputam rodeios nos EUA, morava em Decatur, cidade do Texas.

O pai de Amadeu, Flavio Campos Silva, o Jaru, pediu respeito e não deu declarações. O peão nascido na cidade paulista de Altair, de apenas 22 anos, estava nos EUA desde o ano passado e havia voltado às competições na etapa anterior, em Springfield, no dia 14 de agosto, após uma operação nos dois ombros que o tirou dos rodeios por oito meses. Terminou a etapa em terceiro lugar. Ele somava 104 pontos na classificação e havia ganho US$ 42 mil em premiações.

Amadeu montava desde os 15 anos, com o apoio do pai, que chegou a montar uma arena para ele treinar em Altair. Credenciou-se para disputar provas nos EUA após ser vice-campeão da Liga Nacional de Rodeio, no Brasil, em 2019. No ano passado, realizou um dos seus sonhos ao montar na final mundial da PBR, em Las Vegas, mas lesionou-se e terminou em 42º lugar no campeonato. Neste ano, antes de montar em Springfield, treinou na arena do tricampeão mundial Silvano Alves, em Decatur.

A PBR não divulgou mais informações sobre as razões da morte do peão, que foi atirado ao chão pelo touro, sendo pisoteado na sequência. Ele foi socorrido e levado para o Community Regional Medical Center, em Fresno, mas não resistiu. Como todos os competidores desde 1989, Amadeu montava usando um colete kevlar de proteção, que dispersa o impacto do peso do animal em caso de pisoteio e também usava capacete, obrigatório para peões nascidos após 15 de outubro de 1994.

A última morte de um peão da PBR nos EUA ocorreu em 15 de janeiro de 2019, no rodeio de Denver. O americano Mason Lowe foi a terceira vítima fatal de um evento oficial da PBR desde a fundação da organização em 1992.

No Brasil, a última morte de um competidor da PBR foi a de Giliard Antonio, em 13 de maio de 2018, durante rodeio disputado em Maringá (PR). Ele caiu e foi pisoteado pelo touro de quase 1 tonelada. O trauma provocou o rompimento de um músculo do coração.