sexta-feira, 27 de agosto de 2021

EUA teriam deixado para trás em retirada R$ 93 bilhões em armas e veículos ao Talibã

 


Aquela imagem de uma força sem muitos recursos, com integrantes exibindo roupas civis, armas ultrapassadas e usando sandálias ou chinelos vai aos poucos sendo desconstruída com o “novo” Talibã, que, pelo menos no seu exército, vai se modernizando.

Estima-se que os Talibãs herdaram, com a retirada das forças americanas, R$ 93 bilhões em armas e veículos militares abandonados, incluindo cerca de 200 mil armas de fogo e 20 mil Humvees apreendidos do Exército afegão. Há, ainda, centenas de veículos blindados resistentes a minas terrestres.

Oficiais de Inteligência dos EUA temem que haja cerca de 150 helicópteros e aviões para os insurgentes do Talibã usarem, incluindo 45 helicópteros UH-60 Black Hawk, contou o “Daily Mail”.

Tudo é muito novo para a milícia. Imagens publicadas em mídia social parecem mostrar extremistas pegando um helicóptero Black Hawk abandonado para um “passeio” perto de Kandahar. O helicóptero chegou a taxiou na pista desértica, mas o piloto não conseguiu fazer a aeronave voar.

Sete helicópteros Black Hawk, que custam cerca de R$ 110 milhões cada, chegaram ao Afeganistão no mês passado, antes de o Talibã assumir o controle de Cabul. O tipo de aeronave é considerado um dos mais ágeis para operações de combate.

“Enquanto eles (o Talibã) avançava, eles iam integrando às suas forças equipamentos ocidentais. Os EUA na verdade armaram o exército do Talibã”, afirmou Bill Roggio, editor do “Long War Journal”, baseado nos EUA.

Um dos retratos mais claros da “virada de página” militar do Talibã é a força especial batizada de Badri 313. Os seus membros foram “americanizados”, usando uniformes e equipamentos americanos confiscados do Exército afegão, deixando para trás a imagem mais comum que se tem de um combatente fundamentalista afegão. Os extremistas pintaram o slogan “Força Vitoriosa” na lateral de um transporte blindado M1117, feito nos EUA ao custo de R$ 4 milhões. Em vez dos clássicos fuzis soviéticos AK-47, os membros da Badri 313 exibem modernos rifles americanos M4 e óculos de visão noturna. A unidade está a cargo da segurança nos tensos arredores do aeroporto de Cabul.

O nome da força especial vem de um episódio relatado pela fé islâmica há 1.400 anos, quando o profeta Maomé teria aniquiliado os seus inimigos na batalha de Badr com um exército de apenas 313 homens. Especialistas avaliam que em países vizinhos não haja um grupamento tão bem aparelhado.

“Quando um grupo armado coloca as mãos em armamentos de fabricação americana, é uma espécie de símbolo de status. É uma vitória psicológica”, afirmou ao site “The Hill” Elias Yousif, vice-diretor do Monitor de Assistência à Segurança do Centro de Política Internacional.

Enquanto isso, nas sua campanha de reforma do país, o Talibã impõe aos civis uma série de alterações nos costumes, disseminados durante duas décadas de ocupação pelas forças dos EUA, incluindo a proibição de música e do uso de calça jeans, outro símbolo americano.

Extra – O Globo