quinta-feira, 18 de abril de 2019

Banalização da cesárea relega papel do parto humanizado



A ginecologista-obstetra e professora Fernanda Garanhani Surita, do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, orientou pesquisa realizada pela também ginecologista Juliana Giordano Sandler que teve dois focos distintos. O primeiro consistiu em conhecer a prevalência de cesárea tanto no atendimento público como no privado, na cidade de Campinas, relacionando-a com as características socioeconômicas das parturientes. Na segunda abordagem, foram selecionadas mulheres que realizaram o parto no setor privado na cidade de São Paulo e optaram por médicos de apoio ao parto humanizado, indicados por grupos virtuais e presenciais, visando colher as vivências de parto relatadas por elas ao buscarem a chamada Assistência Humanizada ao Parto e Nascimento (AHPN).
A primeira abordagem avaliou três das maiores maternidades de Campinas com diferentes características – pública, pública-privada e privada, entre 2011 e 2014, período em que foram entrevistadas 1.276 mulheres ainda na fase de internação. Nessas maternidades as taxas de cesárias foram 42%, 55% e 90%, para as maternidades que atendiam, respectivamente, apenas o SUS; o SUS, particulares e convênios; e apenas particulares e convênios. A taxa total de cesáreas foi de 57%.  A docente destaca a discrepância revelada por essas porcentagens, pois a maternidade pública, que recebe mais casos de alto risco, apresentou o menor índice de cesáreas, enquanto na privada essa porcentagem mais que dobrou.
Os dados do questionário comprovaram que a mulher que tem plano de saúde, emprego fixo, maior escolaridade, ou seja, melhores condições socioeconômicas e culturais, são mais suscetíveis ao risco de cesárea. Juliana esclarece: “Falamos em aumento do risco porque a cesárea envolve um procedimento cirúrgico em que a mulher está exposta a três vezes mais complicações do que no parto natural. Então a cesárea deve ser a exceção e não a regra, como se mostrou na pesquisa feita com a população de Campinas. Diferentemente do que ocorre nos países mais desenvolvidos, em que o parto normal é prevalente e decorre principalmente do conhecimento da mulher em relação aos riscos da cesariana, no Brasil esse procedimento banaliza os riscos cirúrgicos e popularizou-se, passando a fazer parte de uma cultura”.