quinta-feira, 25 de abril de 2019

Dicionário de português inova no ensino para estrangeiros



Um dos principais dicionários de língua portuguesa disponíveis na internet traz 200 mil verbetes catalogados. Se para os nativos no idioma já seria uma tarefa árdua conhecer boa parte destas várias palavras, imagine para um estrangeiro. Muitas vezes, a complexidade de aprender uma nova língua está na dificuldade de criar relações e conexões entre os vocábulos.
Sob essa perspectiva, foi desenvolvido na Universidade de Brasília o Dicionário Analógico de Aprendizagem do Português do Brasil (DAAPB), que tem como diferencial disponibilizar dois tipos de consulta: analógica e alfabética. Resultado de um trabalho de dez anos de pesquisa, o material foi criado pela professora do Instituto de Letras (IL) Michelle Machado.
O trabalho teve início ainda no mestrado de Michelle, em 2007. Ela possui toda a sua formação acadêmica realizada na UnB – da graduação ao pós-doutorado. À época a pesquisadora estudava diferentes modelos de dicionários analógicos em todo o mundo. O trabalho desdobrou-se no doutorado, em 2011, e em 2017, durante o pós-doutorado, ela passou a dedicar-se com afinco ao desenvolvimento da ferramenta.
Voltado exclusivamente para estrangeiros, o DAAPB preenche uma demanda de mercado. “Enquanto professora da graduação de Português do Brasil como Segunda Língua, identifico como uma carência que tínhamos. Falta recurso didático destinado a esse público específico”, diagnostica. “De certa maneira, este produto representa uma dívida que eu tinha com a UnB, já que minha formação foi toda aqui”, complementa.
Para Michelle, no contexto atual em que o Brasil vive, com a chegada de imigrantes e a internacionalização do país, há necessidade de reforço da difusão da língua portuguesa e de materiais específicos. “É preciso facilitar o aprendizado da língua e disponibilizar um instrumento de qualidade e gratuito”, considera.

Para a orientadora Enilde Faulstich, Michelle é exemplo de perseverança, de interesse e, principalmente, de fidelidade ao estudo. Foto: Amália Gonçalves/Secom UnB
Orientada pela professora Enilde Faulstich, a pesquisa de Michelle está vinculada ao Centro de Estudos Lexicais e Terminológicos (Centro Lexterm). “Ela completou o ciclo ao ingressar como docente e concluir o pós-doutorado na instituição. O papel do centro é justamente o de formação de novos pesquisadores, em todos os níveis”, destaca a docente.
CONSULTA FLEXÍVEL – Ao fornecer duas formas distintas de pesquisa – analógica e alfabética –, a página amplia as possibilidades de busca pelo aprendiz do português. Um dicionário analógico reúne as palavras com base na afinidade de ideias. “Por ser organizado seguindo identidade de relações, é importante definir critérios, uma vez que as possibilidades de relacionar conceitos são praticamente infinitas”, expõe Michelle.
Após o desenvolvimento da seção analógica, veio a ideia de criar também as definições de acordo com as necessidades do seu público-alvo. “Os campos da parte analógica do dicionário contemplam o português básico, e além da possibilidade de consultar por relação semântica, também pode-se procurar palavras como dicionário de língua comum, em ordem alfabética como uma busca qualquer”, detalha.