domingo, 20 de março de 2022

Papa determina que qualquer católico batizado, inclusive mulheres e leigos, poderá chefiar departamentos do Vaticano














 O Papa Francisco determinou neste sábado uma mudança histórica que permite a qualquer católico batizado chefiar departamentos do Vaticano, inclusive leigos – nome dado àqueles que não são religiosos e parte do clero – e mulheres. A regra faz parte da nova Constituição para a administração central do Vaticano, conhecida como Cúria, que entrará em vigor no próximo dia 5 de junho.

Durante séculos, os departamentos foram comandados por clérigos do sexo masculino, geralmente cardeais ou bispos. O novo documento, de 54 páginas, é chamado Praedicate Evangelium (Pregar o Evangelho, em latim) e levou quase uma década para ser concluído. Lançada no nono aniversário da posse do Pontífice, em 2013, a nova Constituição substituirá a anterior, emitida em 1988 pelo Papa João Paulo II.

De acordo com o anúncio, “o papa, os bispos e outros ministros ordenados não são os únicos evangelizadores na Igreja”, acrescentando que homens e mulheres leigos “devem ter papéis de governo e responsabilidade” na Cúria.

A seção de princípios do documento diz que “qualquer membro dos fiéis pode chefiar um dicastério (departamento da Cúria) ou organismo” caso o Papa decida que são qualificados e os nomeie. A Constituição vigente, de 1988, afirma que os departamentos, com poucas exceções, deveriam ser chefiados por um cardeal ou bispo e assistidos por um secretário, especialistas e administradores.

A nova regra não faz distinção entre homens e mulheres, e diz apenas que a nomeação de um leigo depende da “competência particular, poder de governo e função” do departamento em questão. No geral, a nova Constituição permite também que os departamentos tenham suas próprias regras internas.

Ao menos dois departamentos, o dedicado aos bispos e o dedicado ao clero, continuarão sendo chefiados por homens, uma vez que mulheres não podem ser padres na Igreja Católica, ressaltam especialistas. Já o departamento para a vida consagrada, responsável pela ordem religiosa, poderá ser dirigido por uma freira no futuro. No momento, a área é comandada por um cardeal.

Em entrevista à Reuters, em 2018, o Papa revelou que havia selecionado uma mulher para chefiar um departamento econômico do Vaticano, mas ela não aceitou o cargo por motivos pessoais. A nova Constituição diz que o papel dos leigos católicos no governo da Cúria é “essencial” por causa de sua familiaridade com a vida familiar e a “realidade social”.

No último ano, o Papa Francisco nomeou uma mulher pela primeira vez para o segundo cargo mais importante no governo da Cidade do Vaticano, tornando a irmã Raffaella Petrini a mulher de mais alto escalão no menor país do mundo.

Também em 2021, o Pontífice nomeou a freira italiana Alessandra Smerilli para o cargo interino de secretária do escritório de desenvolvimento do Vaticano, que lida com questões de justiça e paz. Além disso, o Papa Francisco escolheu Nathalie Becquart, membro francês das Irmãs Missionárias Xaviere, como co-subsecretária do Sínodo dos Bispos, um departamento responsável por preparar grandes reuniões dos bispos mundiais a cada dois anos.

O Globo