domingo, 27 de março de 2022

Lula questiona posturas de Biden e Europa na guerra entre Ucrânia e Rússia













 Em discurso de 48 minutos neste sábado (26) durante a festa de 100 anos do PCdoB em Niterói, no Rio de Janeiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou as posturas do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e dos países europeus na guerra entre Ucrânia e Rússia. Lula lamentou a invasão da Ucrânia e sugeriu que Europa e Estados Unidos poderiam ter evitado o conflito se tivessem tomado atitudes diferentes.

“Eu não posso concordar com a invasão da unidade territorial de outro estado. Não posso concordar, que eu lamento profundamente da Rússia ter invadido a Ucrânia. Mas é importante eu lembrar que tem muita gente envolvida [nessa guerra]. Por que a Europa não tomou uma atitude? Porque que o Biden não tomou uma atitude? Por que queriam obrigar o Putin a aceitar a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] se, em 1961, os Estados Unidos não aceitaram que a Rússia colocasse míssil em Cuba e, por isso, evitou a terceira guerra mundial?”, questionou ele.

Lula argumentou também que se estivesse no lugar do presidente Jair Bolsonaro (PL) poderia ter feito algo para ajudar a evitar o conflito.

“A gente vai recuperar a soberania desse país. A gente vai ter um presidente respeitado pela China e pelos Estados Unidos. A gente vai ter um presidente que, como diz o Chico Buarque, não fala grosso com a Bolívia e não fala fino com os Estados Unidos, fala igual com os dois. A gente vai ter um presidente que poderia ter interferido nessa guerra Rússia-Polônia”, disse Lula, que acabou confundindo Ucrânia com Polônia.

Em seu discurso, precedido por líderes de partidos aliados do PCdoB, PDT, PSB e PSOL, Lula contou ainda que quando era presidente foi convidado pelo então presidente dos EUA, George W. Bush, para entrar na guerra contra o Iraque, mas recusou. E sugeriu que os Estados Unidos, antes de entrarem em uma guerra, constroem uma narrativa transformando o inimigo em terrorista, para depois atacá-lo.

“Eu ‘tô’ cansado de ver essa gente construir os monstros, constrói a narrativa. Depois que os Estados Unidos perderam a narrativa da guerra do Vietnã, depois que eles perderam a guerra do Vietnã, eles nunca mais perderam uma narrativa. Porque, primeiro eles transformam o inimigo em bandido, em terrorismo. Em 2003 o Bush me convidou para ir para guerra com o Iraque. Eu falei: ‘ô, Bush, eu não conheço o Saddam Hussein. Eu nunca visitei o Iraque. O Saddam Hussein nunca falou mal de mim. Eu não conheço ele, porque eu tenho que brigar com o Saddam Hussein?’”, completou.

O ex-presidente e pré-candidato do PT para voltar a ocupar o cargo afirmou que a guerra destrói e que o Brasil, que não está envolvido no conflito, vai pagar o preço porque sofre com o encarecimento do combustível e dos fertilizantes, prejudicando a economia e a agricultura.

Lula voltou a criticar a política de preços da Petrobras equiparada ao mercado internacional. Na sexta-feira (25), o preço do barril ultrapassou US$ 120 dólares. Enquanto isso, o levantamento semanal da Agência Nacional do Petróleo (ANP) aponta que nos últimos dias o preço médio nacional da gasolina ficou em R$ 7,210. Já o litro do óleo diesel custa em torno de R$ 6,564.

Durante seu discurso, Lula também fez críticas ao ex-procurador federal Deltan Dallagnol, à imprensa e comemorou os resultados econômicos da época em que foi presidente do Brasil. Segundo ele, a estratégia do governo foi ter colocado o pobre no orçamento e repartido a riqueza do país. O ex-presidente sugeriu que os ricos não pagam Imposto de Renda como deveriam.

“A primeira coisa é colocar o povo pobre no orçamento do Estado. Ele tem que entrar no orçamento da prefeitura, dos estados e da União. A contrapartida, para compensar, é a gente colocar o rico no Imposto de Renda porque eles não pagam Imposto de Renda neste país”, afirmou.

Sobre Dallagnol, condenado a pagar R$ 75 mil de indenização a Lula, o ex-presidente disparou: “A semana passada, nós desmascaramos o Dallagnol com aquele negócio do PowerPoint”.

CNN Brasil