segunda-feira, 6 de julho de 2020

Aos 26 anos, real enfrenta desafios com pandemia, recessão e endividamento



Quem nasceu depois do lançamento do real, em 1º de julho de 1994, ou mesmo próximo a essa data, dificilmente pode imaginar o que era viver em 1 país com taxas de inflação estratosféricas. Só para se ter ideia, no dia 29 de dezembro de 1992, quando Itamar Franco assumiu definitivamente a Presidência da República, depois da renúncia de Fernando Collor, a inflação alcançava nada menos que 1.119% no acumulado em 12 meses.

“Não há flagelo maior para uma economia do que a inflação. Sou do tempo em que ela alcançava 80% ao mês. O preço era 1 pela manhã, outro à tarde e à noite outro diferente, para o mesmo produto. Não havia planejamento que funcionasse, nem investimento“, lembra o senador Antonio Anastasia (PSD-MG), que foi governador do seu Estado por duas vezes e secretário de planejamento.

O país estava com sua economia em frangalhos e experimentava a hiperinflação. Depois de atravessar vários planos econômicos heterodoxos, como o Cruzado I e II, em 1986; o Bresser, no ano seguinte; o Verão, em 1988/1989 e o Collor I e II, em 1990 e 1991, o brasileiro resistia em confiar na sua moeda, o cruzeiro real, a última antes do real.

Em março de 1990, quando foi anunciado o plano econômico mais drástico de todo esse período, que confiscou grande parte da poupança nacional, a inflação anualizada batia em 6.390,52%. No mês seguinte, alcançou o recorde da história brasileira, com 6.821,32% no acumulado em 12 meses. Os planos envolveram, de modo geral, congelamento de preços. Alguns instituíram cortes de zeros e moedas novas, mas não restringiram a impressão de dinheiro, o que continuava estimulando o consumo, que, por sua vez, realimentava a inflação.

Esse cenário desolador só mudou com o Plano Real, que esquivou-se das correções automáticas de preços e salários, desindexando a economia. Passados 26 anos desde o início da circulação da nova moeda —precedido pelo mecanismo saneador da Unidade Real de Valor (URV), que corrigiu os valores sem embutir a inflação passada— poucos têm em conta o significado da chamada memória inflacionária.

Porém, com o país, a exemplo de boa parte do mundo, atolado nas crises sanitária e econômica, muitos brasileiros se perguntam se essa conquista histórica estaria ameaçada, como ocorreu em 3 grandes crises mundiais: a do México (1995), a Asiática (1997-1998) e a da Rússia (1998), episódios em que as moedas dos países menos desenvolvidos (os “mercados emergentes”), e com economia não plenamente estabilizada, sofreram forte especulação por meio da fuga ou ameaça de fuga em massa de capitais. Aumentar os juros foi a saída então para reter os investidores por meio de remuneração atraente, o que elevou o endividamento público, provocou retração econômica e desemprego. No ano seguinte à quebra da Rússia, o Brasil faria uma guinada no modelo de controle inflacionário.