segunda-feira, 27 de julho de 2020

'Quantas meninas não denunciam por vergonha como minha filha?', diz pai de jovem que se matou após estupro

Antonia Barra se matou aos 21, em outubro de 2019, deixando registros de que tinha sido estuprada

"Somos uma família normal, da tão falada classe média do Chile. Com muito esforço, sacrifício, estudo, conseguimos viver tranquilos. Tivemos cinco filhos, um homem e quatro mulheres… mas uma delas não está mais conosco."

A filha ausente é Antonia, uma jovem que tirou a própria vida em outubro de 2019, aos 21 anos, depois de deixar dois relatos contando ter sido estuprada.

O acusado, Martín Pradenas, 28, estava em prisão domiciliar, à espera de um julgamento que teve sua primeira audiência na última quinta-feira (23) e que tem comovido a população chilena. Ele nega o crime.

Na sexta-feira, a Corte de Apelações da cidade de Temuco, no sul do país, revisou as decisões tomadas na Primeira Instância da Justiça e atendeu a um pedido da Promotoria: revogou a prisão domiciliar e a substituiu por prisão preventiva, por considerar o acusado um "perigo à sociedade".

A audiência, realizada pela internet, foi acompanhada em peso pelo público em geral: o canal do Poder Judiciário teve um milhão de acessos, uma cifra recorde.

É o que escolheu Alejandro Barra: dar a maior visibilidade possível ao caso, não só para fazer justiça à filha, diz ele, como para dar a outras meninas e mulheres a chance que Antonia não teve em vida: a de denunciar o estupro sem temer o estigma e a humilhação.

"A decisão (suicídio) da minha filha foi muito dolorosa para nós. E percebemos que ela tinha a ver com a vergonha, a dor", diz ele
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