quinta-feira, 23 de julho de 2020

Ivermectina: o que a ciência diz sobre a 'nova cloroquina'

Muitas pessoas têm ignorado a falta de evidências científicas sobre eficácia da ivermectina contra covid-19

O centro de eventos de Itajaí ficou lotado em 7 de julho. Ao longo do dia todo, moradores da cidade no interior de Santa Catarina fizeram fila para levar para casa doses de ivermectina.

A Prefeitura comprou milhões de comprimidos do remédio, que é usado contra parasitas, para distribuir à população como prevenção para a covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Várias cidades do país já fizeram igual e outras disseram que pretendem fazer o mesmo.

A procura pelo medicamento também aumentou entre a população em geral. As buscas no Google dispararam. Em algumas farmácias, ele sumiu das prateleiras. E as fabricantes reforçaram a produção para dar conta da demanda.

Esse interesse parece ter sido resultado de uma série de fatores. Um estudo preliminar feito em laboratório teve bons resultados. O acesso a outros remédios alardeados como uma suposta cura para a covid-19 passou a ser controlado.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez menções à ivermectina, e muitas mensagens circularam no WhatsApp recomendando seu uso "para prevenir o contágio".

Além disso, alguns médicos vêm recomendando, nos consultórios e na internet, que as pessoas a tomem para evitar ou tratar a covid-19.

Mas tudo isso parece ignorar um fato simples, mas importante: não há até agora comprovação científica de que a ivermectina - ou qualquer outro medicamento - previna ou trate a covid-19.

"A ivermectina é hoje o que a cloroquina era em março. As pessoas se convenceram de que ela pode ter algum efeito (contra a covid-19) e foram atrás de forma descontrolada", diz a infectologista Raquel Stucchi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).