sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

‘Entregamos nossas promessas’, diz presidente demitido da Petrobras ao anunciar lucro de R$ 59,9 bilhões

 



A Petrobras reverteu no quarto trimestre de 2020 os prejuízos recordes provocados pela pandemia e fechou o ano com lucro de R$ 7,1 bilhões. O resultado foi provocado pela reversão de perdas contábeis no valor de ativos e por ganhos cambiais, que levaram o lucro do quarto trimestre a R$ 59,9 bilhões.

O balanço foi divulgado nesta quarta (24), em meio à crise provocada pela nomeação do general Joaquim Silva e Luna para substituir, no comando da empresa, o economista Roberto Castello Branco, primeiro presidente da estatal sob o governo Jair Bolsonaro. “Em meio à severa recessão global e aos efeitos de um grande choque na indústria de petróleo, nós prometemos estruturar uma recuperação em ‘J’. A meta era sair da crise melhor que antes”, afirmou Castello Branco. “Nós entregamos nossas promessas.”

O lucro ficou 82,3% abaixo do recorde de R$ 40,1 bilhões registrado em 2019, primeiro ano de Castello Branco à frente da companhia. Mas ficou bem acima das estimativas do mercado, que previam que o lucro do quarto trimestre fosse de R$ 9,9 bilhões, o que representaria um prejuízo anual de cerca de R$ 43 bilhões.

No segundo trimestre de 2020, logo após o início da pandemia, a empresa anunciou uma série de revisões no valor de seus ativos, para adequar a expectativa de receita ao novo cenário de preços do petróleo, que levaram a prejuízo de R$ 48,5 bilhões.

Em três trimestres seguidos de prejuízo no ano passado, a companhia acumulou perdas de R$ 52,8 bilhões. No quarto trimestre, diz a estatal, o lucro foi obtido com reversões de perdas contábeis em ativos no valor de R$ 31 bilhões, de gastos passados do plano de saúde de seus empregados em R$ 13,1 bilhões e com ganhos cambiais de R$ 20 bilhões.

No resultado anual, a queda no lucro é explicada com a queda de 35% do preço do barril do petróleo Brent em dólares, pela revisão no valor de ativos, menores ganhos com desinvestimentos e desvalorização de 31% do real em relação ao dólar.

No texto que acompanha o balanço, Castello Branco comemora como “outra grande conquista” a trajetória de queda do endividamento da empresa, uma das principais metas não só de sua gestão, mas de todas as que assumiram a empresa após a crise provocada pela descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato. “A forte geração de caixa nos permitiu continuar a desalavancar nosso balanço”, afirmou. A dívida bruta, usada como parâmetro pela gestão atual, caiu 5,1% em relação ao trimestre anterior, para US$ 75,5 bilhões. Em reais, a queda foi de 13,8% no período, para R$ 280 bilhões.

Com o desempenho, a empresa propõe distribuição de R$ 10,3 bilhões em dividendos a seus acionistas. Segundo Castello Branco, “valor ainda relativamente modesto, mas mais que o dobro do mandatório para o ano contábil de 2020”. “O retorno total para o acionista Petrobras tem sido muito fraco ao longo dos últimos anos”, afirmou o executivo, repetindo discurso que tem feito desde o início de sua gestão e que ajudou a lhe garantir apoio de investidores e do conselho de administração da companhia.

O apoio foi demonstrado em reunião do conselho nesta terça (23), quando o colegiado aprovou a convocação de assembleia de acionistas para votar a nomeação de Silva e Luna para o comando da companhia. Dos 11 membros do colegiado, 3 votaram contra a convocação. Do restante, apenas 6 votaram a favor. Castello Branco não votou, e o conselheiro Nívio Ziviani não participou da reunião por razões de saúde. Os conselheiros avaliam ainda a possibilidade de questionar Bolsonaro por críticas feitas à gestão da estatal.

Em nota distribuída após a reunião, o conselho deu um recado contra tentativas de interferência do governo: afirmou que continuará a zelar com rigor pelos padrões de governança da Petrobras, “inclusive no que diz respeito às políticas de preços de produtos da companhia”, principal crítica de Bolsonaro. “Em linhas muito gerais, o resultado foi bom, bateu nossas expectativas”, disse após a divulgação o analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos. “A companhia se mostrou resiliente mesmo num período onde sua principal atividade foi afetada por paradas.”

FOLHAPRESS