terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Casal suspeito de agredir filho adotivo diz em depoimento à polícia que a intenção era 'corrigir e disciplinar' a criança

Criança está internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica do Hospital Evangélico de Londrina — Foto: Reprodução/Facebook do Hospital Evangélico de Londrina

O casal preso neste domingo (8) por suspeita de agredir o filho adotivo em Londrina, no norte do Paraná, disse em depoimento à Polícia Civil que agrediu o menino com o objetivo de "corrigir e disciplinar".

A criança, que tem 8 anos, está internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica do Hospital Evangélico em estado grave e sedada desde a noite de domingo. O casal estava com a guarda provisória do menino há quase dois meses.

Uma conselheira tutelar foi até o hospital após um enfermeiro denunciar que a criança tinha marcas de agressão por todo o corpo. Ao chegar à instituição e constatar que o menino tinha hematomas e mordidas em algumas regiões do corpo, ela chamou a Polícia Militar (PM).

O pai e a mãe da criança disseram à conselheira que bateram para corrigir.

Pouco tempo depois, os dois foram presos e autuados por homicídio qualificado na forma tentada e por tortura.

Depoimentos

Ao delegado que atendeu a ocorrência, a mãe do garoto reconheceu que mordeu o filho na bochecha e na panturrilha. Disse ainda que ela e o marido já haviam agredido o menino anteriormente.

"Ele veio me morder porque estava carregando ele para o quarto para a gente poder conversar e disciplinar, mas ele saiu em direção à porta e ficou gritando. A gente pegou ele, levou para o quarto e disciplinou de uma forma errada, porque já estava com a cabeça estourada”, contou a mulher em depoimento à Polícia Civil.

"Quando ele me mordeu, na tentativa de tirar a minha mão, ou dava uma cabeçada e machucava ele ali ou dava uma mordida para ele se assustar e parar”, acrescentou.

O casal afirmou à polícia que bateu no menino com chinelo e uma vara de plástico na noite de sábado (7).

O pai disse que os hematomas na cabeça foram provocados quando a criança se debateu e se jogou no chão para escapar.

"Quando ele saiu correndo em direção à porta, a gente ficou desesperado, nunca tinha passado por aquilo. Trouxe ele de volta para o quarto, mas ele não queria saber de disciplina. Começou a se debater, se jogou no chão e se bateu na parede”, declarou.

"Nos tornamos pai e mãe de um dia para o outro. Estávamos de cabeça quente, a gente se descontrolou. O objetivo não era machucar, mas de disciplinar."

Crise convulsiva

Em depoimento, o pai do menino contou que, na manhã de domingo, ele e a esposa conversaram com o filho sobre o ocorrido na noite anterior e que os três almoçaram e assistiram a um filme juntos.

Depois disso, ainda segundo o pai, a criança começou a passar mal e teve uma crise de convulsão.

"Ele [o filho] disse que estava com uma dor no peito. Levei ele no banheiro, e ele vomitou. Começou a ficar lento, levamos ele para cama, desmaiou e teve uma crise convulsiva. Depois disso, levamos para o hospital. Não levamos antes porque ele estava normal, só tinha um galo na cabeça. Quando ele teve a convulsão, procuramos ajuda médica”, contou o pai.

O que diz a defesa

O advogado do casal afirma que o pai e a mãe do garoto assumiram ter bateu no filho com chinelo e com uma vara, mas negaram o espancamento. Segundo a defesa, a criança mordeu o dedo da mãe, e isso teria provocado as agressões.

“É um caso que comove. São dois jovens que tiveram coragem de adotar uma criança que vem de outra adoção. Eles não queriam causar mal a criança. Nada justifica as agressões, mas é importante esperar o desenrolar dos acontecimentos para fazer qualquer tipo de julgamento”, disse o advogado.

Processo de adoção

O casal tem a guarda provisória da criança desde 18 de outubro de 2019. O menino é natural da cidade de Ladário (MS) e foi adotado em um abrigo em Corumbá, no mesmo estado.

O casal morava em Goiânia e se mudou para Londrina em maio deste ano. Segundo a defesa, o pai do garoto mudou para o Paraná depois de aceitar uma proposta de emprego.

O termo de guarda provisória determinava que os pais deveriam proporcionar condições essenciais à subsistência, saúde e instrução obrigatória, bem como assistência moral, material, educacional à criança nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).