sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Candidato com ELA garantiu R$ 252 milhões contra doença rara, em Alagoas



A esclerose lateral amiotrófica (ELA) ameaça sufocar vidas em corpos paralisados pelo avanço da doença rara e degenerativa vista como sentença de morte para pacientes pobres. Mas o olhar do cirurgião cardiologista Hemerson Casado segue focado na luta por políticas públicas e pesquisas que resultem em tratamento e dignidade no Sistema Único de Saúde (SUS). Mesmo sem cargo público ou mandato, o médico diagnosticado com ELA há seis anos conseguiu R$ 252,3 milhões em recursos do Ministério da Saúde para o avanço da ciência nos estudos sobre a doença nos próximos cinco anos. E o médico garante que fará mais pelos alagoanos, se for eleito deputado federal pelo PP de Alagoas.
Para obter o investimento inédito em parceria com as universidades federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e de Alagoas (UFAL), Hemerson Casado valeu-se apenas dos movimentos de seus olhos, a única forma usada para libertar seus pensamentos para além de seu corpo inerte, com a ajuda de um computador e um dispositivo que custa R$ 26 mil.
Enquanto arca com altos custos de sua sobrevivência, o ativista trava um desafio desproporcional na batalha eleitoral por uma das nove vagas de Alagoas na Câmara dos Deputados. Com pouco dinheiro nem condições físicas ideais para encarar o tradicional corpo a corpo com o eleitor, Hemerson Casado ainda enfrenta preconceitos e descrédito de quem não conhece suas capacidades intelectuais plenas para desempenhar suas funções de legislador, atestadas publicamente pelo neurologista Fernando Gameleira.
Para conquistar votos suficientes para se eleger em um estado com territórios dominados pela política coronelista, o cardiologista contou com a ajuda da esposa Paula; já lançou livros eletrônicos com suas propostas e trajetória de vida; transmitiu a rotina de sua vida durante dias através de um canal do Youtube; arriscou a saúde longe da estrutura de homecare mantida em casa, para enfrentar ambientes insalubres como o Mercado da Produção de Maceió (AL) e fazer panfletagens em meio ao trânsito sob um sol escaldante da primavera alagoana.
E ainda tem de encarar a falta de acessibilidade, eleitores sedentos pela corrupção eleitoral e o abuso de poder de rivais que dominam currais eleitorais na capital e no interior de Alagoas.
Nas eleições de 2014, Hemerson Casado obteve a 16ª votação, com mais de 15 mil votos e ficou como segundo suplente de deputado federal pelo MDB de Alagoas. Mas foi alvo de um boicote quando teve oportunidade de assumir o mandato, em julho de 2016, quando o titular da vaga, Marx Beltrão, hoje no PSD, se tornou ministro do Turismo. Dois meses depois, protestou em seu perfil do Facebook contra a falta de medicamentos para portadores de ELA em Alagoas. Foi quando acusou o governador de Alagoas Renan Filho (MDB), candidato à reeleição, de instituir a pena de morte para ele e os pacientes alagoanos com ELA.
Para informar o eleitor sobre as ideias de um candidato que já faz história na política alagoana, brasileira e mundial, o Diário do Poder entrevistou Hemerson Casado através de um aplicativo de mensagens com o qual o político portador de ELA se comunica constantemente, de forma até mais rápida do que muitos usuários. Para digitar movimentando os olhos, conta com o auxílio do programa chamado “Tobbi”.
A conversa expõe que os ideais de Hemerson Casado vão além do ativismo pelas doenças raras. “O problema aqui em Alagoas é a falta de projetos. Tudo tem um viés político. Não se tem uma boa intenção, um grupo de valores que deveriam fazer parte da atividade política: ética, honestidade, transparência, respeito pelo povo e pelo erário, gabinete enxuto. Sendo eleito, meu primeiro ato será contratar uma auditoria independente para vigiar o meu mandato”, disse Hemerson Casado.