quarta-feira, 28 de março de 2018

FORAGIDO POR HOMICÍDIO AJUDA PF A CAÇAR 'FANTASMAS' NA ASSEMBLEIA DE ALAGOAS



Com base nas informações de um foragido da polícia alagoana acusado de assassinar um vereador em Batalha-AL, no Sertão de Alagoas, a Polícia Federal (PF) está aprofundando as investigações da Operação Sururugate, e ouviu, nesta segunda-feira (26), suspeitos de atuar como “laranjas” do esquema de desvio de recursos da folha da Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE).
As oitivas são decorrentes dos relatos feitos em vídeo no Youtube e oficialmente pelo fazendeiro José Márcio Cavalcante, conhecido como “Baixinho Boiadeiro”, enquanto era caçado pela polícia alagoana. O foragido é acusado de matar o vereador Tony Carlos Silva de Medeiros, o “Tony Pretinho” (PR), no dia 15 de dezembro de 2017.
O homem que despertou o interesse da PF para apurar novas suspeitas na investigação sobre a qual a Sururugate já se debruçava acusou o presidente do Legislativo de Alagoas, Luiz Dantas (MDB-AL), de atuar na distribuição de cargos para desviar recursos através de servidores fantasmas.
O informante incidental da PF é filho de outro vereador de Batalha trucidado, Adelmo Rodrigues de Melo, o “Neguinho Boiadeiro” (PSD), assassinado em 09 de novembro de 2017. E, segundo a Polícia Civil de Alagoas, Baixinho Boiadeiro teria matado o vereador Tony Pretinho para vingar a morte do pai. Versão que contrariou as denúncias da família Boiadeiro, que atribuía o crime a uma suposta reação da família Dantas à apuração das irregularidades que hoje são apuradas pela Polícia Federal.
'LARANJAL' NA MIRA

PF FOI AO MUNICÍPIO DE BATALHA CONHECER A REALIDADE DOS LARANJAS
A assessoria PF não divulgou o número exato nem os nomes das pessoas interrogadas pelo delegado Daniel Granjeiro, nesta segunda-feira. Mas teriam sido sete suspeitos de figurar como “fantasmas” e “laranjas” apontados na lista exposta por Baixinho Boiadeiro, no vídeo publicado em 02 de fevereiro.
No vídeo de 18 minutos, Baixinho Boiadeiro disse que os vereadores Neguinho Boiadeiro e Tony Pretinho teriam sido vítimas de adversários políticos da família Dantas, porque investigavam um esquema fraudulento milionário envolvendo 17 funcionários fantasmas na ALE, que não sabiam que eram utilizados como “laranjas”, na folha do Legislativo Estadual. E afirmou que tais servidores recebiam entre R$ 12 mil e R$ 17 mil por mês, oficialmente, mas ficavam com apenas R$ 300.
Mesmo foragido, Baixinho Boiadeiro fez chegar às autoridades alagoanas o material que os vereadores assassinados teriam reunido, com dados da folha e documentos como declarações de Imposto de Renda.
Com os dados em mãos, a Polícia Federal realizou diligência na semana passada, em Batalha, onde constatou a disparidade das condições econômicas e sociais dos servidores citados pelo denunciante foragido como recebedores de salários polpudos.
Alguns dos citados têm ligações com políticos governistas, a exemplo de um vereador cuja esposa e sogra constam como “laranjas” da Assembleia, nomeados entre o início de 2015 e  final do ano eleitoral de 2016 e alguns residentes fora de Alagoas.

LUIZ DANTAS É ALVO DAS DENÚNCIAS DOS BOIADEIROS (FOTO: ALE)
'CALÚNIA CONTRA OS DANTAS'
Paulo Dantas, ex-prefeito de Batalha e filho do presidente da Assembleia Legislativa, chegou a ser acusado diversas vezes – inclusive no vídeo do foragido – de envolvimento na morte do vereador Neguinho Boiadeiro, juntamente com sua esposa e prefeita Marina Dantas (MDB). Mas ingressou com ação criminal contra Baixinho Boiadeiro, pedindo responsabilização judicial por calúnia.
Luiz Dantas já afirmou que a família Boiadeiro fez a denúncia “para destoar as investigações". E, em dezembro de 2017, usou a tribuna do Legislativo para afirmar que não há mais ninguém interessado na elucidação desses fatos do que ele e sua família. "Quem sujou as mãos de sangue e cometeu seus malfeitos que pague pelas regras estabelecidas na legislação”, afirmou o presidente da ALE, que é aliado do governador Renan Filho e do senador Renan Calheiros, ambos do MDB.