domingo, 23 de janeiro de 2022

Tecnologia Redes sociais adotam medidas para impedir fake news nas eleições 2022


 














A poucos meses do início das campanhas eleitorais, as redes sociais começam a executar novas iniciativas para tentar barrar a disseminação de informações falsas, as fake news. O fenômeno marcou as eleições brasileiras de 2018, com ataques maciços à Justiça Eleitoral e contra candidatos que concorriam à Presidência.

O aplicativo de mensagem rápida Whatsapp foi a principal ferramenta para divulgação de notícias enganosas. Um estudo feito pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS-Rio) concluiu que, nas eleições de 2018, ferramentas de mensagens instantâneas “passaram a ser importantes instrumentos de divulgação de conteúdo político e eleitoral” pela ação de robôs sociais – difusores automatizados de mensagens. A falta de fiscalização e políticas públicas que pudessem impedir esse compartilhamento rápido, no entanto, tornou o aplicativo um terreno fértil para a proliferação de informações falsas.

A experiência fez com que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) adicionasse uma resolução que proibiu a propaganda eleitoral por meio do disparo em massa de mensagens instantâneas sem o consentimento de quem a recebia. A medida também retirou a possibilidade de contratação de serviços que

Em abril de 2020, o WhatsApp restringiu o compartilhamento de conteúdos na plataforma, agora uma mensagem que tenha sido encaminhada mais de cinco vezes, chamada de “frequentemente encaminhada”, passou a só poder ser encaminhada para uma única conversa por vez. Isso levou a uma redução global, também observada no Brasil, de 70% no número de mensagens frequentemente encaminhadas no aplicativo, segundo a Meta.

Para 2022, a plataforma afirmou, por meio de nota, que vai apresentar “soluções ainda mais robustas do que trouxemos aos brasileiros nas eleições locais de 2020”, mas não especificou quais. Em 2020, além de restringir o compartilhamento de mensagens, o aplicativo firmou uma parceria com o TSE para as eleições municipais, criando um chatbot para que as pessoas tirassem dúvidas sobre a votação e desenvolveu um canal para receber denúncias de contas suspeitas de realizar disparos em massa. A aliança também incluiu um pacote de figurinhas para incentivar a participação dos jovens no processo eleitoral.

Com relação aos disparos em massa, a Meta afirma que o WhatsApp segue reforçando a atuação para enfrentar esse abuso e que seus sistemas de detecção estão bem mais avançados.

Sérgio Lüdtke, editor-chefe do Projeto Comprova, uma coalizão de 33 veículos de comunicação para combater desinformação, entende que essas soluções estão longe de acabar com a disseminação de informações enganosas e falsas, mas são bem-vindas.

“Quando o WhatsApp limita o número de compartilhamento, tudo isso vai criando dificuldades, criando obstáculos para desinformação, mas não são obviamente medidas que vão conter ou que vão reduzir isso.  A internet é muito fluida. Onde você fecha uma porta, eles vão procurando outras saídas, então é um trabalho que não tem fim. A gente pode comparar isso com enxugar gelo, mas é preciso que gente enxugue gelo, e eu acho que as soluções para isso, elas também são múltiplas, e elas precisam ser enfrentadas por múltiplos atores e de uma forma não necessariamente coordenada”, explica Lüdtke

A desinformação, segundo o jornalista, também já não é tão facilmente identificada. Se antes as agências de checagem lidavam com informações que continham dados falsos ou eventos que foram modificados, não é isso mais a grande base de desinformação. Basta uma pessoa lançar uma dúvida sobre um fato verdadeiro, uma informação pela metade ou uma notícia descontextualizada para criar uma convicção.

“Lançando a dúvida, você, de certa forma, reforça convicções, reforças certezas que as pessoas já têm. Então, sendo a desinformação um processo, que começa com o isolamento  das pessoas – não precisa ser um isolamento físico, mas isolamento digital, onde ela passa a se envolver com pessoas que têm a mesmas ideias, grupos que já estão formando alguma convicções sobre algumas coisas, sem espaço para o contraditório, sem que essa bolha possa receber informações de fora – as pessoas vão sendo isoladas, vão recebendo ali uma dose diária de desinformação ou de dúvida que vai forçando a formação de uma determinada certeza e, daqui a pouco, qualquer coisa serve de reforço. É muito sutil aquilo que é desinformação.”, detalha o editor do Comprova

O que torna o combate à desinformação ainda mais difícil. Por exemplo, além do Whatsapp, o conglomerado Meta, dono do Facebook e Instagram, também lançou um programa em conjunto com o TSE para direcionar os usuários das duas redes sociais a uma página do site da Justiça Eleitoral sempre que visualizarem alguma postagem que trate das eleições. A iniciativa teve início em dezembro de 2021 e já havia sido tomada anteriormente para postagens relacionadas a pandemia de covid-19, onde um rótulo direciona as pessoas para o site da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No entanto, se essa pessoa vê o TSE como um ator de interesse, o jornalista entende que para essa pessoa isso não vai resolver. Aos olhos dela, vai direcionar o leitor para uma fonte que é interessada, que aos olhos dele não é uma fonte com credibilidade e por isso não tem grande efetividade.

O Twitter também é uma rede social que faz uso de ferramentas para tentar conter conteúdos que vão contra a política da plataforma. Na última 2ªfeira (17.jan), anunciou a testagem de um novo botão no Brasil, Filipinas e Espanha, de “misleading information”, ou seja, informação enganosa. O novo mecanismo de denúncia de informações potencialmente enganosas já havia sido liberado para outros três países e tem como objetivo analisar se esta ferramenta é efetiva na denúncia em tempo real. Por estar em teste, pode ser que a rede social não tome medidas em relação a todas as denúncias recebidas, assim como não poderá responder a cada uma delas.

Ademais, a plataforma tem regras e políticas que determinam conteúdos e comportamentos permitidos no Twitter. Tendo inclusive regras específicas para proteger as conversas em torno de processos eleitorais.

Segundo a política de Integridade Cívica da plataforma, as pessoas não podem usar o serviço para manipular nem interferir em eleições ou outros atos cívicos. Isso inclui publicar ou compartilhar conteúdo que suprima a participação ou induza as pessoas ao erro sobre quando, onde ou como participar de um ato cívico.

As consequências da violação da política dependem da gravidade e do tipo de violação e do histórico de violações anteriores das contas. As providências tomadas podem incluir: exclusão do tweet, modificações do perfil, marcação, bloqueio da conta e suspensão permanente.

Donald Trump foi uma das pessoas a ter a conta suspensa permanentemente. O ex-presidente dos Estados Unidos utilizou a palavra patriotas para falar sobre um grupo de pessoas que invadiram o Congresso americano em 6 de janeiro de 2021, o que a plataforma entendeu como um ” risco de prolongamento da incitação à violência”.

Se nessa ocasião, o uso indevido da rede social foi claro, Lüdtke destaca que é necessário cautela na hora de suprimir aquilo que entendemos como desinformação.

“Toda vez que a gente fala em criar esse tipo de obstáculo para desinformação, cingir a possibilidade de disseminação de determinadas mensagens, a gente na outra ponta tá reduzindo também a liberdade de expressão. É cada vez mais difícil delimitar o que é desinformação e o que não é desinformação. Muito difícil, tanto é que várias tentativas de legislar, regular a questão sempre bate nessa tecla ‘como a gente conceitua? O que é exatamente desinformação?'”, indaga.

Telegram

Na mira do TSE, outro aplicativo que poderá passar por mudanças no Brasil é o Telegram. A Corte discute a possibilidade de banir a ferramenta no Brasil, por não ter tido um retorno sobre as ações adotadas pelo aplicativo de mensagens para combate à desinformação eleitoral. O tema deverá ser discutido pelos magistrados em fevereiro.

SBT News