quinta-feira, 2 de julho de 2020

‘Greve dos Apps’ chama a atenção para trabalhado de entregadores análogo ao escravo



A greve nacional dos entregados por aplicativos, os Apps, levantou nesta quarta-feira (1º) uma séria discussão sobre o trabalho análogo ao escravo imposto a essa categoria.
A paralisação de hoje foi motivada pelas péssimas condições de trabalho, por medidas de proteção contra os risco de infecção pelo novo coronavírus e mais transparência na dinâmica de funcionamento dos serviços e das formas de remuneração.
Muitos entregadores não têm álcool gel para higienizar as mãos ou até mesmos seus capacetes e veículos para executar seu trabalho. Ou seja, há uma precarização e não legislação trabalhista que os proteja de forma objetiva.
Em abril passado, o programa Greg News, do HBO, levou ao ar a informação de que tem entregador que pedala 30km só pra começar a fazer as entregas. Fazem jornadas muito mais longas que as 8h previstas na legislação, não têm intervalos regulares. E, por conta dos horários de pico de pedidos, muitos entregadores acabam dormindo na rua.
“Sobre salário? Te desafiamos a entrar no site dessas empresas e encontrar informações sobre os valores”, denunciou a precarização.
O comediante Gregório Duvivier fala sério: “Não se engane: quem está garantindo a nossa quarentena não é o iFood, a Rappi, Loggi, UBER. São os entregadores.”
Em setembro de 2015, com 44 serviços, um entregador ganhava até R$ 5.300 por mês. Em setembro 2016, um ano depois, esse mesmo entregador ganhava R$ 2.283. O dobro de entrega e menos da metade. “Hoje, se bobear, esses valores viraram mil reais.”
A greve nacional de hoje foi chamada por trabalhadores de empresas como Rappi, Loggi, Ifood, Uber Eats e James. Os organizadores argumentam que o movimento foi construído por meio da interlocução por grupos na internet, embora algumas entidades tenham se somado, como associações de entregadores e de motofrentistas.
Os entregadores cobram o aumento das taxas mínimas recebidas por cada corrida e o valor mínimo por quilômetro. Atualmente, eles são remunerados por corrida e pela distância percorrida, e por isso esses dois indicadores acabam definindo o pagamento por cada entrega.
Os trabalhadores reclamam dos baixos valores e da variação deles para baixo. “Tem dia que é R$ 1, tem dia que é R$ 0,50. O Ifood e outras empresas mandam notificação para os clientes falando que já pagam. Não é verdade”, reclama Simões, entregador do Rio de Janeiro e uma das pessoas que está contribuindo com a organização da greve.
Outra reivindicação é a mudança dos bloqueios dos trabalhadores, que consideram arbitrários. Eles criticam o fato de motoristas terem sua participação suspensa ou até mesmo cancelada a partir de critérios não claros e sem a possibilidade de apuração dos ocorridos e de direito de defesa dos envolvidos.
“Elas fazem um bloqueio injusto. Nós dependemos da plataforma pra trabalhar e para levar o sustento para casa. Eu e mais 40 motoboys fomos suspensos na Loggi. Paramos três dias pra reivindicar e, no segundo dia, nos bloquearam. Isso aconteceu no Rio de Janeiro e em São Paulo. No Ifood , você entrega o pedido, o cliente alega que não recebeu, o Ifood manda outro pedido e acaba bloqueando o entregador por 48 horas sem sequer ligar para o entregador”, exemplifica Alessandro Sorriso, da Associação dos Motoristas Entregadores do Distrito Federal.
Tanto em relação à remuneração quanto aos bloqueios, os entregadores questionam a falta de transparência das plataformas, que não deixam claras as formas de cálculo dos pagamentos e os critérios utilizados para a suspensão das contas dos trabalhadores.