quarta-feira, 15 de abril de 2020

Educação infantil particular é primeira vítima do setor na crise do coronavírus e já demite

Centros de educação infantil enfrentam a inadimplência e a incerteza

Os centros de educação infantil são as primeiras vítimas do setor de ensino privado da crise econômica causada pela pandemia de coronavírus em Curitiba. Além da alta inadimplência verificada já no mês de abril e de estruturas menores, muitos pais de crianças com menos de quatro anos estão tirando as crianças da escola porque nesta faixa etária a lei não obriga que elas estejam na escola.
Luana Rodrigues Hass Ferreira, proprietária do Centro de Educação Infantil (CEI) Primeira Opção, no bairro São Lourenço, já teve que demitir algumas funcionárias e suspender o contrato por dois meses de outras. Ela registrou inadimplência de 60% nas mensalidades de abril e viu 25% dos alunos, todos abaixo de quatro anos, pedirem cancelamento de contrato. “E para o próximo mês, vou dar desconto de 30% porque quem pagou neste mês, talvez não queira pagar no próximo mês, apesar de oferecermos atividades online. Esses atrasados, posso até receber por medida judicial, mas será a longo prazo e minhas despesas são agora”, explica Luana, que têm a escola há nove anos. “Estamos tentando renegociar contrato de aluguel e com outros fornecedores para reduzir o impacto, mas estamos em uma situação muito difícil”.
Jaqueline Machado da Silva, do Centro Educacional Cristão de Curitiba (CEC), que oferece da educação infantil à ao ensino fundamental, também viu em três dias seis alunos pedirem cancelamento e teme que o número aumente. “Por isso já fiz algumas demissões enquanto tenho dinheiro em caixa. Já iniciamos também a negociação com fornecedores e prestadores de serviços, a equipe que permaneceu fizemos acordo para redução carga horário em 50% e cancelamos alguns contratos com prestadores de serviços e marketing”, conta ela. Na opinião de Jaqueline, a situação vai piorar e muito se a suspensão for além de 4 de maio. “Muitos pais ainda estão compreensivos neste mês de abril, mas se a suspensão continuar não ficarão, mesmo que a gente continue a disponibilizar material online”.
As duas fazem parte de um grupo de whatsapp com mais de 50 proprietários de centros de educação infantil da capital paranaense e a situação é a mesma em praticamente todas. “Quem não precisa deixar o filho na escola, vai tirar, ainda mais em economia de guerra”, diz Janqueline. “O relógio trabalha contra nós”, afirma Luana.
M.H.S, que não quis se identificar, 35 anos, têm dois filhos, uma de seis anos, no primeiro ano, e outra de três anos na educação infantil. “No caso do caçula, cancelei o contrato e a escola foi compreensiva, porque pela lei ela não precisa ficar na escola. Eu e meu marido em casa, ainda que em home office, não vimos necessidade. Eu tive o salário reduzido em 50%, meu marido é autônomo e está praticamente sem receber”, conta ela. Como o filho mais velho está no primeiro ano, M.H.S contratou um advogado para pedir o documento de transferência do filho para outra escola. “A minha ideia era ensinar ele em casa, e depois que acabar isso, transferir. Mas assim que o advogado entrou em contato com a escola, eles resolveram dar desconto de 40%. Vamos tentar pagar, porque as aulas online estão boas”, explica a mãe.