segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Metade dos povos indígenas isolados é alvo de religiosos

Índios Korubo contatados em 2015: a lei determina que iniciativas de aproximação com grupos isolados devem partir deles próprios, cabendo ao governo federal proteger suas terras Foto: Funai/Agência O Globo

A nomeação de um ex-missionário evangélico para a coordenação da área de indígenas isolados da Funai reacendeu uma polêmica que vinha adormecida desde os anos 1990, quando o órgão suspendeu a entrada em terras indígenas de missões religiosas que ameaçavam pôr em risco a política de não contato, sustentada pela Constituição de 1988. Trinta anos depois, a investida de evangelizadores continua e já atinge 13 dos 28 povos reconhecidos em situação de total isolamento. A diferença é que, agora, esses missionários, se sentem respaldados pelo discurso do atual governo.

Levantamento feito pelo GLOBO de denúncias da entrada de missionários evangélicos em terras indígenas feitas ao Ministério Público Federal (MPF), dados da Funai e do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI) mostra que a maioria das ocorrências está no Vale do Javari (AM), região com a maior concentração de nativos isolados do mundo. Além do Javari, com o registro de ameaça a dez povos, há ainda ocorrências nas terras indígenas Mamoadate (AC) e Hi-Merimã (AM).