quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Descaso no Museu Nacional era denunciado por cientista alagoano, ainda no Império



Maior cientista brasileiro da época do Império, o alagoano Ladislau de Souza Mello Netto dirigiu o Museu Nacional no final do século 19 e já reclamava das condições de sua antiga sede, no Campo de Santana ou Campo da Aclamação. Ele foi um dos principais articuladores da migração do museu e de todo o seu acervo para o Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, consolidada em 1892.
O que Ladislau Netto não imaginaria é que todo seu esforço para colocar o Brasil em posição de destaque no cenário mundial da ciência teria uma de suas principais conquistas incinerada pelo mesmo descaso contra o qual lutava, há mais de um século.
O blog Cultura e Viagem publicou na última segunda (3) o registro do pesquisador Paulo Vinícius Aprígio da Silva, em que testemunha o esforço do cientista alagoano.
“[Ladislau Netto] sempre aproveitava todos os espaços para reclamar das condições do edifício que sediava a Instituição, no Campo da Aclamação, todos os ensejos eram próprios para barganhar um aumento no orçamento, para requerer mais verbas para a publicação dos Archivos do Museu Nacional ou para custear mais viagens de naturalistas”, relatou Paulo Vinícius Aprígio da Silva.
O texto do blog assinado por Fábio Lins ainda destaca a trajetória da vida de Ladislau Netto dedicada à ciência. E lembra de sua articulação exitosa como diretor do Museu Nacional, até concretizar a transferência de sua antiga sede para a ociosa residência oficial dos imperadores, em 1892, cerca de três anos após a Proclamação da República.
A mudança de sede foi um marco na carreira do cientista alagoano, que se aposentou no ano seguinte à transferência do acervo, após mais de vinte e sete anos servindo ao Museu Nacional.
Retribuição
Nascido em Maceió em 1838, Ladislau Netto dedicou toda a vida à ciência: botânica, arqueologia, antropologia, depois de deixar a capital alagoana em direção ao Rio de Janeiro, em 1854, fugindo do destino que sua família tinha lhe reservado: a carreira de comerciante em Alagoas.
Depois de receber apoio financeiro do Império para estudar na França, Ladislau Netto tornou-se doutor em Ciências Naturais na Sorbonne e pesquisador na Sociedade Botânica de Paris. Conheceu o mundo, deu conferências em Paris e em Berlim sobre arqueologia, descobriu novas espécies de plantas e foi membro das Sociedades Botânicas dos Estados Unidos, da França, de Portugal e de Luxemburgo.
Quando retornou ao Brasil, em 1866, aceitou o convite do Império para dirigir a Seção de Botânica do Museu Nacional, até assumir o cargo de Diretor do Museu Nacional, em 1876, criando a revista Archivos do Museu Nacional, de publicação trimestral, que recebia colaborações de cientistas como Charles Darwin. Além de organizar a Exposição Antropológica de 1882 e chefiar a delegação brasileira na Exposição Universal de Paris de 1889.
Ladislau Netto teve sua biografia escrita pelo médico alagoano Abelardo Duarte, em 1950. E o ballet Maria Emília Clarck lançou em 2003, em Maceió, o espetáculo Nettea, homenagem batizada com o nome da espécie de planta descoberta pelo alagoano, em uma de suas expedições científicas na Nova Zelândia. (Com informações do blog Cultura e Viagem)