segunda-feira, 27 de novembro de 2017

CHANCE DE 2º TURNO FAZ BOLSONARO SUAVIZAR FALA PRÓ-DITADURA



Empurrado para um eventual segundo turno das eleições presidenciais de 2018 pelas pesquisas eleitorais, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) já começa a amenizar seu discurso que já defendeu ser favorável à tortura e avaliou a ditadura militar como “uma época maravilhosa”. E o motivo de, agora, adequar sua retórica à defesa da democracia é o mesmo que pautou suas falas durante toda sua vida pública: ampliar o seu eleitorado.
Bolsonaro está sendo convencido pela sua própria equipe de que precisa ser mais palatável para um maior número de eleitores. E tenta se aproximar do centro, sugerindo que “sempre foi um defensor da Constituição e da democracia”.
A convicção de seu próprio staff é de que o pré-candidato terá dificuldade em manter os bons índices de intenção de voto quando a “eleição começar pra valer” se não suavizar o discurso para sair do gueto radical de quem ainda prega intervenção militar ou golpe de Estado.
Em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, o analista político Ibsen Costa Manso, da ICM Consultoria, avaliou que a concentração do discurso eleitoral em nichos ideológicos não garante vitórias em eleições no Brasil. E afirma que Bolsonaro deve ter compreendido a utilidade de capitalizar votos de forças mais moderadas um eventual segundo turno com o ex-presidente Lula.
 “Brasil tem uma pequena margem de eleitores que são de esquerda ou de direita. O voto não é ideológico. Não se ganha eleição apenas com esses nichos. Ele é um voto muito mais personalista do que ideológico. Bolsonaro deve ter entendido que precisa de um discurso para ampliar seu eleitorado de classe média, mas sem perder sua personalidade. Em um eventual segundo turno com Lula, ele vai precisar capitalizar o voto útil de forças mais moderadas”, afirmou o analista político.
SEM GUINADA BRUSCA
O movimento é delicado porque o presidenciável não pode perder a narrativa que construiu ao longo de sua carreira de quase 30 anos e oito mandatos (um de vereador e sete de deputado federal) e ainda precisa contar com o “barulho” dos grupos mais radicais que atuam nas redes sociais.
O ajuste no discurso pode ser lido nos três “comunicados ao povo brasileiro” que o deputado divulgou recentemente por meio de suas redes sociais. No primeiro, do dia 8, lia-se que “evidentemente que nenhum dos membros de nossa equipe defende ideias heterodoxas ou apreço por regimes totalitários”. “Assim, afirmamos que, absolutamente, todas as propostas serão pautadas pelo respeito aos contratos, respeito às leis e pelo TOTAL respeito à Constituição Brasileira”, concluía o texto. Os outros dois comunicados, publicados nos dias 13 e 21, repetiam a ideia de “respeito à Constituição”.
As cartas estão sendo redigidas por um grupo de economistas e professores que estão dando suporte e emprestando verniz teórico para o candidato. 
O grupo foi recrutado por um homem de confiança de Bolsonaro, o advogado e professor de economia política Bernardo Santoro (levado ao posto de secretário-geral do PEN/Patriota pelo próprio Bolsonaro). Ele também já foi presidente do Instituto Liberal e coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica. Outros nomes desse grupo são os professores de Economia e Finanças da Unifesp, os irmãos Arthur e Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub, que são os responsáveis pelo texto final dos comunicados, e o economista e pesquisador do Ipea Adolfo Sachsida.
Além da formulação de projetos, o time do Bolsonaro quer evitar que o carimbo de “ignorante em termos econômicos” cole no presidenciável. 
MILITARES NO PODER
Outro resultado da atuação do grupo de professores é o tópico “Ministério militar”. Em março, o deputado declarou que, caso eleito, 50% do seu Ministério seria composto por militares. Em entrevistas mais recentes, porém, o deputado disse que haverá militares no seu gabinete, mas sem especificar a quantidade.
A fórmula para não perder o apoio dos radicais está nas palavras do presidente do PEN/Patriota, Adilson Barroso. “Quando as pessoas pedem pela volta da ditadura, o que eles estão dizendo é que querem mais segurança, querem uma postura mais dura contra a bandidagem e o fim da corrupção”, afirmou. (AE)