quinta-feira, 2 de março de 2023

Documento usado por Elize Matsunaga para ‘limpar’ ficha criminal no interior de SP tinha três adulterações, diz polícia


 













O atestado de antecedentes criminais usado por Elize Matsunaga, para que ela pudesse trabalhar em Sorocaba (SP), apresenta três adulterações. A informação foi detalhada pela Polícia Civil nesta terça-feira (28).

Elize foi condenada por matar e esquartejar o marido em 2012. Agora, ela responde também pelo crime de uso de documento falso.

O documento tinha mudanças no QR Code, na assinatura digital alfanumérica e no nome da pessoa a qual o documento pertencia e que não possuía registro de antecedentes.

“Ela pegou o atestado de um colega dela, da empresa, sobrepôs o nome dele aqui em cima”, explicou o delegado Acácio Leite, ao tratar do caso. “Deu uma borradinha aqui, no QR Code. E suprimiu dois números do alfanumérico”, conta.

“Nesses documentos que nós apreendemos, enviados para a perícia, foi feita a comprovação com material óptico adequado. A perícia nos ofertou um laudo dizendo que o atestado apresentado por ela realmente é falso. Até certo ponto, é uma cópia mal feita do verdadeiro. Para nós, a partir desse momento, está caracterizado o uso de documento falso”, lembrou.

O delegado também explicou que Elize Matsunaga usou no documento o nome de solteira, Elize Araújo Giacomini.

Função do documento

Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP), o atestado de antecedentes criminais é um documento fornecido no estado pelo Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD).

Esse documento tem como objetivo informar a existência ou a inexistência de registro de antecedentes criminais. Ele apresenta a situação do cidadão no exato momento da pesquisa.

Ainda conforme a SSP, ele não apresenta a ficha pessoal do cidadão. “Somente disponibiliza uma resposta negativa ou positiva quanto a possíveis pendências jurídico-criminais atuais.” O documento tem validade de 90 dias.

O g1 apurou que Elize, em 12 de dezembro de 2022, teve o pedido deferido para mudança de endereço. Isso teria ocorrido porque ela fixou residência em Sorocaba. Na decisão, houve a determinação para que autos fossem remetidos à Vara de Execuções Criminais da cidade.

O sistema do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, no entanto, ainda mostra a execução como sendo na cidade de Franca. O TJ não comentou a questão.

Indiciamento em Sorocaba

Elize Matsunaga está sendo investigada por usar um documento de terceiros para tentar limpar a ficha criminal dela para um trabalho em um condomínio em Sorocaba, no interior de São Paulo.

“Ela é uma pessoa nacionalmente conhecida. O nome dela gera um conhecimento, um impacto. Ela usou desse artifício, sim, para tentar burlar a fiscalização, para burlar o controle de acesso desse condomínio”, afirmou o delegado Acácio Leite durante coletiva de imprensa, onde apresentou detalhes da investigação sobre o caso.
A defesa nega a adulteração do documento e, em depoimento, Elize disse que foi a empresa onde ela trabalhava que falsificou o atestado de antecedentes (leia mais abaixo).

Elize cumpre liberdade condicional desde maio do ano passado e foi detida em Sorocaba nesta segunda-feira (27).

Segundo a polícia, o carro dela foi monitorado quando ela deixou Franca (SP), cidade onde atualmente mora e trabalha como motorista de aplicativo, e abordado quando acessou a Avenida Dom Aguirre. Na delegacia, ela foi informada de que estava sendo indiciada por uso de documentos falsos.

“Ela está a muito nervosa, sem saber o que estava acontecendo. Nem o carro dela ela tinha condições de dirigir”, disse o delegado.

Elize foi levada ao 8º Distrito Policial, onde disse, em depoimento, que foi a empresa onde ela trabalhava que falsificou o atestado de antecedentes criminais dela, para que ela pudesse ingressar em um dos condomínios para o qual prestava serviço.

Mesmo assim, o delegado informou que Elize será investigada pelo crime e que a empresa onde ela trabalhava em Sorocaba ainda não foi ouvida pelos policiais.

Segundo a polícia, o crime de uso de documentos falsos não cabe prisão e o juiz de Execuções é quem vai definir o futuro da ex-detenta.

Emprego em Sorocaba

Conforme apurado pelo g1, no final do ano passado, Elize participou de um processo de contratação para uma empresa que atua em condomínios de Sorocaba.

De acordo com a investigação, Elize teria alterado os dados do documento de outro funcionário e o utilizado para ingressar em um dos condomínios onde prestava serviço, na região do bairro Wanel Ville, na zona oeste de Sorocaba.

Durante a operação nesta segunda-feira (27), dois atestados foram apreendidos e encaminhados para perícia. Após a perícia, ela poderá ser chamada novamente para depor.

De acordo com o delegado, Elize ficou por pelo menos dois meses em Sorocaba. Ela trabalhava na supervisão e contato com moradores em uma empresa de pintura, como “uma espécie de gerente”, e passou por pelo menos cinco condomínios em várias regiões da cidade.

Ainda segundo a Polícia Civil, Elize escolheu Sorocaba para trabalhar porque tem pessoas conhecidas na cidade, desde quando estava presa. No entanto, o quarto onde ela morava na cidade já está desocupado e a residência de Elize oficial, atualmente, é em Franca.

O que diz a defesa

Ao g1, o advogado de Elize, Luciano Santoro, manteve a versão da cliente, negando o uso de documento falso.

“Nem teria qualquer motivo para tanto, já que seu processo não transitou em julgado e ela poderia ter a certidão de antecedentes sem apontamentos”, explica.

Por G1.