A mulher tinha medidas protetivas contra Ezequiel. Ainda assim, investigações preliminares indicam que ele armou uma emboscada na saída da escola dos filhos, no Parque São Rafael, zona leste, e disparou dezenas de vezes quando o carro da mulher, um Fiat Uno branco, passou. Atingidos, Michelli e o filho mais novo, de 2 anos, chegaram a ser socorridos, mas não resistiram. O mais velho, de 4 anos, não sofreu ferimentos.
"Ela estava morando escondida dele. Não revelava (endereço), morava em um lugar bem escondidinho e que só a família sabia onde era", conta ao Estadão um dos três irmãos de Michelli, o vendedor autônomo Jacques Nicolich, de 38 anos. "Tanto que ele pegou (encontrou) ela na escola, deve ter descoberto pelo nome, pelo registro das crianças."
Ezequiel era estudante de Medicina em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, e morou com Michelli e os dois filhos por alguns anos em Ponta Porã, cidade de Mato Grosso do Sul que faz fronteira com o país vizinho. "Lá, ela descobriu que ele estava acessando um site de relacionamento e que fez um depósito de R$ 1 mil no nome de uma mulher. Ela descobriu e queria saber quem era essa mulher", diz Jacques. O episódio ocorreu em maio.
Jacques relata, ao ser confrontado, que Ezequiel perdeu o controle e partiu para cima de Michelli. "Quando ela correu para o quarto - ele era colecionador de arma, correu para pegar uma arma -, ela correu para a rua e chamou a polícia. A polícia conseguiu pegar ele", conta. Conforme o boletim de ocorrência registrado em maio, Michelli relatou que Ezequiel queria expulsá-la de casa e a ameaçou de morte, "engatilhando a arma em sua cabeça".
Segundo a delegada Thatiana Isabela Colombo, da Delegacia de Atendimento à Mulher de Ponta Porã, Ezequiel foi preso em flagrante por portar munições sem comprovação de regularidade - apesar de, na época, ter apresentado registro de CAC (grupo que engloba caçadores, atiradores e colecionadores) - e medidas protetivas foram deferidas contra ele depois de então.
Desde maio, Ezequiel estava proibido de se aproximar de Michelli, seus familiares e testemunhas, devendo permanecer a uma distância mínima de 200 metros; de manter contato com a vítima por qualquer meio de comunicação; e de permanecer no lar de convivência com a ex-mulher. No mês seguinte, apesar de as medidas continuarem valendo, ele recebeu liberdade provisória.
Após o episódio, Michelli se mudou com os filhos de Ponta Porã para São Paulo e passou a viver sob tensão. "Ela fugia dele, desde maio que ficou essa tensão", conta Jacques. Como alternativa, o acusado passou a tentar contato com os familiares dela. "Ele mandava mensagens para mim em perfis falsos dele, já que não podia mandar mensagem para ela. Aí ele criava perfis fake e ficava tentando se aproximar dela de novo, falava das crianças, para voltar com ele", afirma. "Até me mandou foto de registro de armamento para falar que não tinha que ter sido preso."
De acordo com o irmão da vítima, Michelli e Ezequiel nunca se viram após a separação. No último Dia dos Pais, ainda assim, ela mandou, por intermediários, os filhos para que o pai pudesse revê-los. A Polícia Civil de São Paulo informou que o acusado relatou que estava morando em Carapicuíba, na Grande São Paulo, há algum tempo.