sábado, 6 de abril de 2019

Temer se defende, critica espetáculo e diz que voltou para casa ‘com muita vergonha no peito’



Na primeira entrevista desde que foi preso por ordem do juiz federal Marcelo Bretas, ‘ que o acusou de suposta tentativa de atrapalhar as investigações, o ex-presidente Michel Temer contou como retornou para casa após ser libertado por decisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2): “Vim com muita vergonha no peito”, contou Temer à Band, “com muita dor no coração. Confesso que minha mulher tem uma força extraordinária, assim como meus filhos e filhas”. E descreveu a reação do filho Michelzinho, de 10 anos: “Quando eu cheguei, ele me abraçou, entendeu tudo.”
Temer também contou como foi a busca pela PF em sua residência: “A polícia entrou com toda delicadeza, devo dizer. Revirou tudo e saiu com uma sacolinha. Pensou que eles acharam que encontrariam obras de arte, joias, mas saíram só com alguns eletrônicos. Eles foram carinhosos, meu filho de 10 anos não viu nada disso.”
O ex-presidente chamou de “espetáculo” a prisão dele. “Sem um processo formado decretou-se a minha detenção. Para que? Para fazer espetáculo. Eu sou do mundo jurídico, me formei e depois entrei na vida pública. Se alguém, delegado, agente da PF viesse a minha casa, escritório e dissesse: doutor Temer, temos aqui um mandado de detenção, peço que nos acompanhe. O que eu ia fazer? Pegar uma metralhadora e ia eliminá-los? Não, iria cumprir o que a ordem jurídica estabelece. Fizeram um espetáculo.”
Ele definiu ainda de ficção a denúncia da Lava Jato do Rio de que ele seria o chefe de uma quadrilha que movimentou quase R$ 2 bilhões ilegalmente ao longo de quatro décadas, e citou até uma série da Netflix que ficou conhecida.
“A impressão que eles querem passar é de que o Temer reuniu um grupo tipo [da série] A Casa de Papel para roubar o Brasil. Mas, na verdade, eu reconstruí o Brasil. Isso é ficção, é coisa de gente que não quer perder.”
Segundo a ação, reformas na casa da filha Maristela foram bancadas com dinheiro de corrupção. Além do ex-presidente e sua filha, viraram réus João Batista da Lima Filho, o Coronel Lima, e a mulher dele Maria Rita Frentzel, proprietários da empresa de arquitetura Argeplan. Eles são acusados de lavagem de dinheiro, corrupção e organização criminosa na reforma da casa de Maristela.
Segundo a Procuradoria da República, as obras realizadas entre 2013 e 2014, custaram R$ 1,6 milhão e foram bancadas com dinheiro de corrupção e desvios ocorridos entre 2012 e 2016. Na entrevista, Temer nega as acusações.
“Esses valores teriam ingressado em 2014, mas minha filha fez a primeira parte da reforma em 2011 e concluiu em 2013. Como eu saberia que receberia verba no final do outro ano?”, afirma o político, que se dirigiu duramente aos procuradores.
“Não me quebrarão”A certa altura da entrevista, o ex-presidente se dirigiu diretamente aos seus algozes:
– “Tenham vocês, procuradores, vergonha emocional. Não envolvam a minha filha nisso. Querem fazer isso para me quebrar psicologicamente. Não quebrarão.”
Ele contou ter dito em depoimento que quando sua minha filha decidiu fazer a reforma, “eu disse a ela que procurasse a Rita e o Lima porque eles trabalham nisso e podiam ajudar. Outra mentira que contam é que a reforma custou R$ 1,6 milhão. De fato houve uma coleta de preços, a minha filha não quis porque era muito, queria algo mais simples. Foi quando eu disse para a Rita: contrata alguém para fazer por um valor menor. Espero que o juiz não receba a denúncia contra minha filha, já que fui eu que mandei ela procurar a Argeplan. Ela não tem nada com a empresa; se há alguma coisa, é comigo.”
PerseguiçãoMichel Temer afirmou também que é vítima de perseguição e acusou o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de atuar em conluio com o empresário Joesley Batista para tentar incriminá-lo.
“Você só pode acusar alguém com um conjunto de provas sólido. Então essa história de querer pegar a minha cabeça para exibir na parede, digo com toda a franqueza, vocês não vão conseguir. No caso da JBS fizeram isso. Aqueles que foram me gravar, depois foram presos. Na época eu os denunciei e não houve outra solução senão pedir a prisão dessas pessoas. E pediram mais: pediram a anulação da delação que está lá há um ano no STF e até hoje não foi colocado em pauta.”
Pecha de corruptoPor fim, o político nega ser corrupto. “Absolutamente não [sou corrupto]. Basta verificar as minhas contas”, diz.
“Você sabe que em um dos inquéritos, o delegado pediu quebra do sigilo das minhas contas. Remexeu em tudo e não encontrou nenhuma irregularidade. Tenho pequenas e modestas quantias. Resultantes de 58 anos de trabalho, senhores procuradores. Economias de quem trabalhou duro advogando, sendo procurador e dando aula toda a noite na PUC de São Paulo e em Itu. Por isso, digo com naturalidade: Tentam me impor a pecha de corrupto, mas isso é uma coisa que talvez bata em mim e volta pra quem fala.”