segunda-feira, 8 de abril de 2019

Startup desenvolve sistema de comunicação sem fio para monitorar iluminação pública



Um sistema de controle de iluminação pública com recursos de inteligência artificial é a inovação que a startup paulistana Desh Tecnologia pretende colocar no mercado ainda este ano. A empresa foi uma das selecionadas na chamada Cidades Inteligentes-Cidades Sustentáveis, lançada em 2016, no âmbito do programa PIPE/PAPPE Subvenção, resultado de acordo de cooperação entre a FAPESP e a Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep).
A Desh Tecnologia é responsável pelo desenvolvimento do hardware e do software do sistema, com conexão sem fio à internet, que possibilita a análise de dados para o controle inteligente da iluminação pública. Além do monitoramento da iluminação, o projeto deve incluir outras funcionalidades, como controle de tráfego, estacionamento e consumos de água e gás.
O engenheiro eletricista Douglas Malvar Ribas, sócio-fundador da Desh Tecnologia, explica que a comunicação sem fio em grandes áreas e a integração de diversos dispositivos de interesse para smart cities é possível graças à escolha da tecnologia aplicada ao projeto – a radiofrequência em rede mesh. Diferentemente de um sistema sem fio por wi-fi, no qual há um único roteador conectado à internet, a rede mesh dispõe de diversos pontos, como uma “rede de nós”. “Na rede mesh todos os pontos servem de repetidores do sinal. E a iluminação pública oferece a possibilidade de instalação de muitos pontos próximos uns dos outros, criando uma cobertura de internet em grandes áreas”, destaca Ribas.
O sistema compõe-se, basicamente, de três elementos: um rádio em cada luminária, que executa a função de fotocélula para fazer o controle de iluminação; concentradores instalados em pontos estratégicos (para receber os dados enviados, ponto a ponto, pela rede mesh); e uma central de controle, com recursos de inteligência artificial, para a análise dos dados.
Eficiência energética
Na iluminação pública, detalha o pesquisador, o sistema fará não apenas o acionamento das lâmpadas – função já existente em outros sistemas e que é ativada por meio de sensores que detectam o nível de luminosidade no ambiente. “O produto contempla funções como controle de intensidade da luz (por meio de sensores de presença), medições de corrente para estimativa de consumo de energia e diagnósticos de falhas, antecipando manutenções”, exemplifica Ribas.
Segundo o empresário, existem sistemas similares em funcionamento no país. “O grande diferencial da Desh está em oferecer um sistema de comunicação com o que há de mais moderno em rede mesh, já utilizada em alguns sistemas importados, mas com domínio local da tecnologia, não utilizando tecnologias licenciadas ou módulos de comunicação comprados de terceiros”, afirma.
Ele estima que exista grande potencial de inserção do produto no setor de iluminação pública. Além de economizar energia elétrica, devido ao controle mais eficiente do uso e manutenção dos equipamentos de iluminação, o novo sistema traz como benefício maior precisão no cálculo de consumo – o que pode interessar tanto concessionárias de energia quanto prefeituras que as contratam.
“Hoje, a cobrança do serviço é feita por estimativa, baseada na quantidade de lâmpadas, consumo médio e tempo médio em que ficam ligadas. Com o sistema será possível obter todos esses dados com maior precisão. O equipamento ajudará muito a contabilizar o consumo de energia para a cobrança pela concessionária, corrigindo erros e perdas que pode haver para os dois lados”, afirma o pesquisador.
A Desh prevê que as prefeituras estarão entre os clientes finais do produto, mas a startup não pretende comercializá-lo diretamente. “A ação comercial deverá ser feita junto a consórcios ou empreiteiras contratados pelas prefeituras para implantar, operar e fazer a manutenção da iluminação”, explica Ribas.
As outras funcionalidades do sistema agregadas à rede deverão atrair outros clientes. “Durante a maior parte do dia, o sistema de iluminação fica ocioso. Mas é possível conectar à rede mesh sensores para a operação de semáforos e de smart parking [que permitem checar, em tempo real, a disponibilidade de vagas de estacionamento por meio de um aplicativo de celular] ou, ainda, para o controle e automação de utilities [serviços públicos].”
Empresas de utilities — energia, água, óleo e gás – já são clientes da Desh. Segundo o empresário, para duas grandes concessionárias de energia a empresa já comercializa equipamentos que fazem a leitura automatizada da energia elétrica. “Hoje, nossa maior receita vem da venda do rádio, que traz um software embarcado para a medição do consumo de energia elétrica”, explica Ribas.
Startup acelerada
Instalada no município de São Paulo, a Desh está entrando em seu quinto ano de atividade. Foi constituída em 2014 com o propósito de participar do Start-Up Brasil, Programa Nacional de Aceleração de Startups criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). “Registramos o CNPJ para participar do programa”, lembra o empresário.
Na época, Douglas Malvar Ribas e mais dois engenheiros – Adriano Yamaoka e Hugo Sampaio – trabalhavam em uma empresa que desenvolvia soluções de comunicação para aplicações industriais. “Víamos a demanda do mercado por uma nova tecnologia que surgia mundialmente, a rede mesh, mas que fosse desenvolvida localmente, para atender às especificidades do mercado nacional. Como a empresa em que estávamos não teve interesse em investir no desenvolvimento, decidimos abrir uma empresa.” Hoje, além dos três sócios, a empresa conta com quatro funcionários e dois bolsistas.
Após a participação no programa federal, com a obtenção de uma bolsa pelo período de um ano, a Desh associou-se à aceleradora Baita, de Campinas, que lhes deu orientações de estratégia e gestão. “Para a criação da empresa, não tivemos grande dificuldade. O problema veio depois, enquanto não havia receita suficiente para sustentá-la. As bolsas acabaram e os projetos, como eram de longo prazo, ainda não tinham se concretizado. Tivemos que colocar na empresa o que tínhamos de dinheiro no bolso e ainda contrair dívidas”, lembra Ribas.
O apoio do PIPE conferiu fôlego à empresa. “O programa também nos deu possibilidade de investir em tecnologia inovadora com alto risco. Nossa meta é desenvolver tecnologia de ponta para concorrer de igual para igual com gigantes internacionais; queremos ser uma referência no segmento.” (FAPESP – Pesquisa para Inovação)