domingo, 16 de dezembro de 2018

Ex-governador explora rio que agoniza em Alagoas, sem autorização legal



A população ribeirinha da bacia do Rio Mundaú voltou seus olhares para o céu, temendo reviver uma nova crise hídrica como a que desabasteceu, em 2017, milhares de habitantes das margens do rio que nasce no Agreste de Pernambuco e atravessa a divisa para correr até a laguna que inspirou o nome do estado de Alagoas, a Lagoa Mundaú. Diante da preocupação ambiental e social, o ex-governador de Alagoas Manoel Gomes de Barros, o “Mano” (MDB), drena grandes volumes de água do rio federal para abastecer suas propriedades e matar a sede de seus rebanhos, em União dos Palmares (AL). Tudo isso sem a autorização legal nem a fiscalização da Agência Nacional de Águas (ANA).
Diário do Poder flagrou a captação irregular da água do Rio Mundaú para abastecer um dos açudes da Fazenda Jurema, residência mais antiga do ex-governador alagoano, aos pés da Serra da Barriga. Uma bomba acoplada a um trator drenava água de um trecho em que não há nenhuma outorga registrada pela ANA, próximo à propriedade do ex-governador, cujos canos de irrigação permanecem montados em trajetos que passam por baixo de dois pontos da estrada que margeia a propriedade do líder político local.
O flagrante, nenhuma novidade para a população palmarina, acontece enquanto o nível do rio já ameaça o abastecimento a partir de janeiro de 2019, caso não haja chuvas. Uma prática que ignora a lembrança do sufoco por que passaram os moradores da Zona da Mata há menos de dois anos, quando foram atingidos por uma inédita necessidade de racionar água e de depender de carros-pipa.
A estiagem voltou a reduzir a vazão do rio, em uma região que tinha água em abundância e foi atingida por enchentes trágicas, sendo a última e mais violenta delas em 2010, com mortos e milhares de casas destruídas.
A reportagem questionou o ex-governador se ele iria suspender a captação e regularizar a situação que beneficia irregularmente a sua propriedade. Quis saber também o motivo de ele não ter obtido a autorização para o uso da água, após tantos anos explorando o rio. E também perguntou se a situação não o constrange, como líder político local e estadual, já que o Rio Mundaú tem sofrido com a escassez de água, secou e causou desabastecimento de várias cidades. A questões enviadas pelo aplicativo WhatsApp foram lidas por Mano, mas o político não mandou respostas.