segunda-feira, 18 de junho de 2018

Estatal mineira faz a polícia intimidar jornalistas que denunciaram negociata



A Polícia Civil de Minas Gerais intimou duas repórteres do jornal mineiro O Tempo a prestar depoimento como testemunhas em um inquérito aberto após requerimento da Codemig (Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais), empresa estatal responsável pela exploração de nióbio. As repórteres realizaram reportagem mostrando que a Codemig prepara uma cisão da estatal para vender sua área mais lucrativa, referente a nióbio.
A estatal acusa um ex-funcionário de ter vazado documentos para reportagens do jornal O Tempo que tratam da venda de ações e da contratação de empréstimos por meio da Codemig para sanar as dívidas do Estado.
No âmbito dessa investigação, a polícia intimou as jornalistas Angélica Diniz e Ludmila Pizarro para que elas reconhecessem esse ex-servidor ou indicassem quem teria fornecido as informações. Ao buscar a polícia, a Codemig anexou uma troca de mensagens entre Diniz e o presidente da estatal em que ela pede seu posicionamento diante dos fatos que seriam publicados pelo jornal e diz a ele ter os documentos sobre o caso.
A Constituição assegura aos jornalistas o direito de não revelar de onde obtiveram informações para uma reportagem.

As jornalistas foram intimadas na última quarta (13) a comparecer ao Departamento de Investigações de Crimes contra o Patrimônio no dia seguinte. Na segunda-feira (11), a estatal havia requerido o inquérito.
Na quinta (14), as jornalistas prestaram depoimento à polícia e se recusaram a revelar suas fontes.
Em nota, o jornal O Tempo informou lamentar o que classifica como ação de intimidação e afirmou que “não recuará diante de ameaças à democracia”.
“O jornal O Tempo lamenta e repudia a tentativa do poder público de ferir um direito básico para o exercício do jornalismo. O direito de preservar o sigilo da fonte é garantido pela Constituição Federal. Fica evidenciada a ação para intimidar as repórteres Angélica Diniz e Ludmila Pizarro justamente quando essas por meio da prática do bom jornalismo traziam fatos relevantes sobre as negociações envolvendo Codemig”, afirma o texto.
Também por meio de nota, a estatal afirma que, no dia 11, realizou um protocolo de notícia-crime contra um ex-agente público no Departamento de Fraudes da Polícia Civil. “Foi solicitada a instauração de inquérito para apuração de indícios de conduta criminosa perpetrada contra a companhia.”
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) considerou o caso um risco ao sigilo de fonte.
A presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Alessandra Mello, afirmou que a intimação é mais um abuso da polícia contra a imprensa. “É um abuso recorrente e constante em Minas”, afirmou.
Segundo Mello, trata-se de uma tentativa de intimidação. “Espero que o estado tenha uma posição firme a respeito disso para que não aconteça mais.”