segunda-feira, 25 de junho de 2018

Deputado cassado é apontado como líder de detentos que recebem regalias em Curitiba



O deputado cassado e desfiliado do PT André Vargas é apontado como líder do grupo de detentos que teriam regalias dentro do Complexo Médico Penal (CMP), o presídio da Lava Jato, em Curitiba. Segundo a carta escrita de dentro do presídio, que motivou a reabertura das investigações pela Polícia Federal e Ministério Público Federal (MPF), Vargas seria ainda o principal interlocutor com agentes e a direção da unidade. “Aqui dentro da carceragem do CMP, o líder deles é o André Ilário Vargas, assessorado por João Vaccari Neto e Jorge Afonso Argello (Gim Argello).”
Ainda de acordo com o documento, as celas das alas que abrigam os presos pela Lava Jato ficam abertas até às 21h30, enquanto as demais fecham às 17h. “Por algumas vezes, o funcionário sequer fechou-os durante a noite, assim os cubículos dormem abertos. Isso foge totalmente ao protocolo de segurança do Depen Paraná”, diz o texto.
Vargas e Gim Argello têm livre circulação pelo corredor da ala 6, mesmo durante o toque de recorrer. Além disso, os dois andariam escoltados por dois detentos que entram “em ação para resolver qualquer problema que alguma pessoa tiver com um dos ‘Lava Jatos’”. Eles teriam ainda cozinheiros, responsáveis por pratos como bacalhau e risotos. Banhos de sol em horas e dias proibidos também seriam parte das regalias. Segundo a carta, ninguém toma uma atitude quanto as regalias por medo de represálias.
Vistoria
Na última quinta (21), corregedora-geral do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen), Lúcia Beloni, iniciou uma série de vistorias nas 33 unidades do Estado. O CMP seria o primeiro, onde foram encontrados apenas alimentos fora do padrão, em pequena quantidades. “Em relação a essa ala, eu averiguei cela por cela. Levantamentos tudo, vistoriamos tudo. Mas nada que indicasse um sistema de regalias para esses presos. Muito pelo contrário.”
Segundo a corregedora, outros detentos foram questionados sobre os presos da ala da Lava Jato. No entanto, nenhuma reclamação foi feita e ninguém delatou o esquema de regalias. “Perguntei da alimentação, do banho de sol, da leitura, do trabalho, da limpeza. Então não posso anotar um fato que não ocorreu.”
Apurações
A Lava Jato agora apura se os detentos da ala 6 contrataram detentos para cumprir as funções de trabalho ou estudos que contribuem para redução da pena. O ex-senador Gim Argello, por exemplo, é apontado “como o rei do curso” no CMP. Condenado a 11 anos e 8 meses de prisão, ele pediu o abatimento de 412 dias de pena, mas teve 114 dias de desconto da pena cassados pelo Tribunal de Justiça do Paraná por não comprovar a veracidade dos diplomas apresentados.
Há ainda o trabalho de apuração sobre uma suposta sala onde itens proibidos nos presídios seriam levados durante as fiscalizações. Segundo a carta, os detentos que recebem as regalias “maquiam e escondem o que não querem que vejam” antes das vistorias.