quinta-feira, 12 de março de 2020

Cerca de 70% da população da Alemanha podem contrair o novo coronavírus, diz Merkel




A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou na manhã desta quarta-feira que 70% da população do país europeu, cerca de 60 milhões de pessoas, podem se infectar com o novo coronavírus. Por isso, o país investirá para conter a disseminação do Sars-CoV-2.
O motivo, segundo a chefe de governo alemã, é a ausência de uma cura para a Covid-19 e a falta de imunização da população em relação ao vírus inédito.
— Quando o vírus está se espalhando com a população sem imunidade e sem um tratamento existente, 60% a 70% da população será infectada — disse Merkel, durante uma coletiva de imprensa. — O processo (de contenção) deve se concentrar em evitar a sobrecarga do sistema de saúde freando a disseminação do vírus. É questão de ganhar tempo.
A fala pública de Merkel ocorre logo após duras críticas do jornal alemão Bild, que classificou a condução da crise pela chanceler como caótica. “Sem aparições, sem discursos, nenhuma liderança nesta epidemia”, escreveu o periódico.
O ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn, tem liderado a frente de respostas ao coronavírus. Spahn tem se mostrado contra a proibição da entrada de italianos no país, a exemplo da vizinha Áustria, opinião compartilhada por Merkel.
O ministro disse, no entanto, que as medidas extraordinárias tomadas pelo governo italiano são compreensíveis dada a “situação especial” no país europeu, que se tornou a segunda nação mais afetada pelo coronavírus, atrás apenas da China. O instituto alemão Robert Koch previu, ainda, que a Covid-19 voltará a se alastrar pelo país asiático.
Coordenação nacional
Até o momento, a Alemanha registrou 1.296 contágios e duas mortes. A epidemia levantou debates sobre o modelo federal da Alemanha, que garante autonomia às autoridades regionais dos 16 estados de decidir se acatam ou não a sugestão do ministro da Saúde de cancelar eventos com mais de mil participantes, a exemplo da capital, Berlim, que adotou a medida nesta quarta-feira.
“A crise do coronavírus mostra que, sem uma condução clara, o federalismo está chegando aos seus limites na luta contra epidemias”, escreveu o Bild.
Merkel, por sua vez, defendeu o modelo e disse que o federalismo não significa que as autoridades têm a autonomia de repassar responsabilidades. A chanceler prometeu se encontrar com as lideranças estaduais para coordenar uma política nacional de resposta à Covid-19 e disse que fará “o que for necessário” para conter a doença, inclusive junto aos países da União Europeia (UE).
A chefe de governo disse, ainda, que conversará nos próximos dias com o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, para oferecer ajuda ao país europeu. Até o momento, mais de 10 mil pessoas contraíram a Covid-19 em território italiano.
O modelo federalista da Alemanha foi estabelecido pelos Aliados após a Segunda Guerra Mundial e inserido na constituição do país com o objetivo de evitar o modelo centralizador de poder adotado pelo regime nazista.
O Globo